1527 - 2 edições 5 partes 10 cantos 1102 estrofes Oitava Rima 8816 versos decassílabos Modelos: Ilíada e Odisséia; Eneida; Orlando, o Furioso Epopéia clássica Exaltação do homem -aventura Descoberta do caminho marítimo para a Índia MAR representa vida e morte, é símbolo de fecundidade e vida, perigo e morte. Provações das viagens: Fome, sede, frio, calor, desconforto, promiscuidade, doenças, piratas, naufrágios e epidemias Vasco da Gama.

INFLUÊNCIAS LITERÁRIAS

Ilíada e Odisséia de Homero Eneida de Virgílio Orlando, o Furioso de Ludovico Ariosto FONTES HISTÓRICAS João de Barros. Fernão Lopes. Tradições orais. PARTES Primeira - Proposição Assunto Porque escreveu o poema Memória do povo português Resumo do poema Segunda - Invocação Inspiração divina Pede ajuda às Tágides D. Sebastião - Óleo de Cristóvão de Morais - 1571 Terceira - Dedicatória D. Sebastião - Dinastia de Avis Quarta - Narração Viagem de Vasco da Gama às Índias História de Portugal Não obedece ordem cronológica In Media res Vênus e Marte ajudam os portugueses Baco e Netuno prejudicam Ilha dos Amores - recompensa que Vênus dá aos portugueses Taprobana - Sri Lanka - ilha em que eles teriam chegado Melinde - Narram-se as Histórias de Portugal Gigante Adamastor O Velho do Restelo Vitória portuguesa Portugueses impõem aos infiéis a fé cristã Mescla mitologia greco-romana e catolicismo fervoroso Quinta - Epílogo Decadência portuguesa Pessimismo Crise política.

EPISÓDIOS IMPORTANTES   (veja ilustrações)

Primeiro Consilio dos Deuses Batalha de Salado Batalha de Aljubarrota Encontro de D. Manuel e Vasco da Gama Sonho Profético de D. Manuel- Rios Indo e Ganges, sob forma de dois anciões, profetizam os sucessos e perigos que os portugueses enfrentariam no Oriente. O sonho estimula D. Manuel I à navegação de Vasco da Gama. Os Doze da Inglaterra A Ilha dos Amores, O Velho do Restelo Inês de Castro, O Gigante Adamastor - representação mítica do cabo da Boa Esperança, cabo das tormentas que foi transformado em rocha pelo deus Peleu, como vingança por ter seduzido sua esposa Tétis. CANTO III Reinado de D. Afonso Episódio da Formosíssima Maria Batalha de Salado Reinados de D. Pedro e de D. Afonso.

EPISÓDIO DE INÊS DE CASTRO  (veja ilustrações)

Túmulo de Inês de Castro 118 "Passada esta tão próspera vitória, Tornando Afonso à Lusitana terra, A se lograr da paz com tanta glória Quanta soube ganhar na dura guerra, Aconteceu da mísera e mesquinha Que depois de ser morta foi Rainha 119 "Tu só, tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano. 120 "Estavas, linda Inês, posta em sossego, De teus anos colhendo doce fruto, Naquele engano da alma, ledo e cego, Que a fortuna não deixa durar muito, Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuto, Aos montes ensinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas. 121 "Do teu Príncipe ali te respondiam As lembranças que na alma lhe moravam, Que sempre ante seus olhos te traziam, Quando dos teus fermosos se apartavam: De noite em doces sonhos, que mentiam, De dia em pensamentos, que voavam. E quanto enfim cuidava, e quanto via, Eram tudo memórias de alegria. 122 "De outras belas senhoras e Princesas Os desejados tálamos enjeita, Que tudo enfim, tu, puro amor, despreza, Quando um gesto suave te sujeita. Vendo estas namoradas estranhezas O velho pai sesudo, que respeita O murmurar do povo, e a fantasia Do filho, que casar-se não queria, 123 "Tirar Inês ao mundo determina, Por lhe tirar o filho que tem preso, Crendo co'o sangue só da morte indina Matar do firme amor o fogo aceso. Que furor consentiu que a espada fina, Que pôde sustentar o grande peso Do furor Mauro, fosse alevantada Contra uma fraca dama delicada? 124 "Traziam-na os horríficos algozes Ante o Rei, já movido a piedade: Mas o povo, com falsas e ferozes Razões, à morte crua o persuade. Ela com tristes o piedosas vozes, Saídas só da mágoa, e saudade Do seu Príncipe, e filhos que deixava, Que mais que a própria morte a magoava, 125 Súplica de Inês de Castro ao Rei "Para o Céu cristalino alevantando Com lágrimas os olhos piedosos, Os olhos, porque as mãos lhe estava atando Um dos duros ministros rigorosos; E depois nos meninos atentando, Que tão queridos tinha, e tão mimosos, Cuja orfandade como mãe temia, Para o avô cruel assim dizia: 126 - "Se já nas brutas feras, cuja mente Natura fez cruel de nascimento, E nas aves agrestes, que somente Nas rapinas aéreas têm o intento, Com pequenas crianças viu a gente Terem tão piedoso sentimento, Como coa mãe de Nino já mostraram, E colos irmãos que Roma edificaram; 127 "Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito (Se de humano é matar uma donzela Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la) A estas criancinhas tem respeito, Pois o não tens à morte escura dela; Mova-te a piedade sua e minha, Pois te não move a culpa que não tinha. 128 - "E se, vencendo a Maura resistência, A morte sabes dar com fogo e ferro, Sabe também dar vicia com clemência A quem para perdê-la não fez erro. Mas se to assim merece esta inocência, Põe-me em perpétuo e mísero desterro, Na Cítia fria, ou lá na Líbia ardente, Onde em lágrimas viva eternamente. 129 "Põe-me onde se use toda a feridade, Entre leões e tigres, e verei Se neles achar posso a piedade Que entre peitos humanos não achei: Ali com o amor intrínseco e vontade Naquele por quem morro, criarei Estas relíquias suas que aqui viste, Que refrigério sejam da mãe triste." 130 Morte de Inês de Castro "Queria perdoar-lhe o Rei benino, Movido das palavras que o magoam; Mas o pertinaz povo, e seu destino (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam. Arrancam das espadas de aço fino Os que por bom tal feito ali apregoam. Contra uma dama, ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais, e cavaleiros? 131 "Qual contra a linda moça Policena, Consolação extrema da mãe velha, Porque a sombra de Aquiles a condena, Co'o ferro o duro Pirro se aparelha; Mas ela os olhos com que o ar serena (Bem como paciente e mansa ovelha) Na mísera mãe postos, que endoudece, Ao duro sacrifício se oferece: 132 "Tais contra Inês os brutos matadores No colo de alabastro, que sustinha As obras com que Amor matou de amores Aquele que depois a fez Rainha; As espadas banhando, e as brancas flores, Que ela dos olhos seus regadas tinha, Se encarniçavam, férvidos e irosos, No futuro castigo não cuidosos. 133 "Bem puderas, ó Sol, da vista destes Teus raios apartar aquele dia, Como da seva mesa de Tiestes, Quando os filhos por mão de Atreu comia. Vós, ó côncavos vales, que pudestes A voz extrema ouvir da boca fria, O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes, Por muito grande espaço repetisses! 134 Assim como a bonina, que cortada Antes do tempo foi, cândida e bela, Sendo das mãos lascivas maltratada Da menina que a trouxe na capela, O cheiro traz perdido e a cor murchada: Tal está morta a pálida donzela, Secas do rosto as rosas, e perdida A branca e viva cor, coa doce vida. 135 "As filhas do Mondego a morte escura Longo tempo chorando memoraram, E, por memória eterna, em fonte pura As lágrimas choradas transformaram; O nome lhe puseram, que inda dura, Dos amores de Inês que ali passaram. Vede que fresca fonte rega as flores, Que lágrimas são a água, e o nome amores. Túmulo de Camões - Lisboa CANTO IV Batalha de Aljubarrota Conquista de Ceuta Reinados de D. Duarte, D. Afonso e D. João II Armada prestes a largar Belém Episódio do Velho do Restelo 90 "Qual vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha Só para refrigério, e doce amparo Desta cansada já velhice minha, Que em choro acabará, penoso e amaro Por que me deixas, mísera e mesquinha? Por que de mim te vás, ó filho caro, A fazer o funéreo enterramento, Onde sejas de peixes mantimento!" - 91 "Qual em cabelo: -"Ó doce e amado esposo, Sem quem não quis Amor que viver possa, Por que is aventurar ao mar iroso Essa vida que é minha, e não é vossa? Como por um caminho duvidoso Vos esquece a afeição tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento Quereis que com as velas leve o vento?" - 92 "Nestas e outras palavras que diziam De amor e de piedosa humanidade, Os velhos e os meninos os seguiam, Em quem menos esforço põe a idade. Os montes de mais perto respondiam, Quase movidos de alta piedade; A branca areia as lágrimas banhavam, Que em multidão com elas se igualavam. 93 "Nós outros sem a vista alevantarmos Nem a mãe, nem a esposa, neste estado, Por nos não magoarmos, ou mudarmos Do propósito firme começado, Determinei de assim nos embarcarmos Sem o despedimento costumado, Que, posto que é de amor usança boa, A quem se aparta, ou fica, mais magoa. 94

O VELHO DO RESTELO  (veja ilustrações)

"Mas um velho d'aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências feito, Tais palavras tirou do experto peito: 95 -"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas! 96 - "Dura inquietação d'alma e da vida, Fonte de desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida De fazendas, de reinos e de impérios: Chamam-te ilustre, chamam-te subida, Sendo dina de infames vitupérios; Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo néscio engana! 97 -"A que novos desastres determinas De levar estes reinos e esta gente? Que perigos, que mortes lhe destinas Debaixo dalgum nome preminente? Que promessas de reinos, e de minas D'ouro, que lhe farás tão facilmente? Que famas lhe prometerás? que histórias? Que triunfos, que palmas, que vitórias? 98 - "Mas ó tu, geração daquele insano, Cujo pecado e desobediência, Não somente do reino soberano Te pôs neste desterro e triste ausência, Mas inda doutro estado mais que humano Da quieta e da simples inocência, Idade d'ouro, tanto te privou, Que na de ferro e d'armas te deitou: 99 - "Já que nesta gostosa vaidade Tanto enlevas a leve fantasia, Já que à bruta crueza e feridade Puseste nome esforço e valentia, Já que prezas em tanta quantidades O desprezo da vida, que devia De ser sempre estimada, pois que já Temeu tanto perdê-la quem a dá: 100 - "Não tens junto contigo o Ismaelita, Com quem sempre terás guerras sobejas? Não segue ele do Arábio a lei maldita, Se tu pela de Cristo só pelejas? Não tem cidades mil, terra infinita, Se terras e riqueza mais desejas? Não é ele por armas esforçado, Se queres por vitórias ser louvado? 101 - "Deixas criar às portas o inimigo, Por ires buscar outro de tão longe, Por quem se despovoe o Reino antigo, Se enfraqueça e se vá deitando a longe? Buscas o incerto e incógnito perigo Por que a fama te exalte e te lisonge, Chamando-te senhor, com larga cópia, Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia? 102 - "Ó maldito o primeiro que no mundo Nas ondas velas pôs em seco lenho, Dino da eterna pena do profundo, Se é justa a justa lei, que sigo e tenho! Nunca juízo algum alto e profundo, Nem cítara sonora, ou vivo engenho, Te dê por isso fama nem memória, Mas contigo se acabe o nome e glória. 103 - "Trouxe o filho de Jápeto do Céu O fogo que ajuntou ao peito humano, Fogo que o mundo em armas acendeu Em mortes, em desonras (grande engano). Quanto melhor nos fora, Prometeu, E quanto para o mundo menos dano, Que a tua estátua ilustre não tivera Fogo de altos desejos, que a movera! 104 - "Não cometera o moço miserando O carro alto do pai, nem o ar vazio O grande Arquiteto co'o filho, dando Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio. Nenhum cometimento alto e nefando, Por fogo, ferro, água, calma e frio, Deixa intentado a humana geração. Mísera sorte, estranha condição!" Túmulo de Vasco da Gama - Lisboa

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