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- 2 edições 5 partes 10 cantos 1102 estrofes Oitava Rima
8816 versos decassílabos Modelos: Ilíada e Odisséia;
Eneida; Orlando, o Furioso Epopéia clássica Exaltação do
homem -aventura Descoberta do caminho marítimo para a Índia
MAR representa vida e morte, é símbolo de fecundidade e
vida, perigo e morte. Provações das viagens: Fome, sede,
frio, calor, desconforto, promiscuidade, doenças, piratas,
naufrágios e epidemias Vasco da Gama.
INFLUÊNCIAS
LITERÁRIAS
Ilíada
e Odisséia de Homero Eneida de Virgílio Orlando, o Furioso
de Ludovico Ariosto FONTES HISTÓRICAS João de Barros. Fernão
Lopes. Tradições orais. PARTES Primeira - Proposição
Assunto Porque escreveu o poema Memória do povo português
Resumo do poema Segunda - Invocação Inspiração divina
Pede ajuda às Tágides D. Sebastião - Óleo de Cristóvão
de Morais - 1571 Terceira - Dedicatória D. Sebastião -
Dinastia de Avis Quarta - Narração Viagem de Vasco da Gama
às Índias História de Portugal Não obedece ordem cronológica
In Media res Vênus e Marte ajudam os portugueses Baco e
Netuno prejudicam Ilha dos Amores - recompensa que Vênus dá
aos portugueses Taprobana - Sri Lanka - ilha em que eles
teriam chegado Melinde - Narram-se as Histórias de Portugal
Gigante Adamastor O Velho do Restelo Vitória portuguesa
Portugueses impõem aos infiéis a fé cristã Mescla
mitologia greco-romana e catolicismo fervoroso Quinta - Epílogo
Decadência portuguesa Pessimismo Crise política.
Primeiro
Consilio dos Deuses Batalha de Salado Batalha de Aljubarrota
Encontro de D. Manuel e Vasco da Gama Sonho Profético de D.
Manuel- Rios Indo e Ganges, sob forma de dois anciões,
profetizam os sucessos e perigos que os portugueses
enfrentariam no Oriente. O sonho estimula D. Manuel I à
navegação de Vasco da Gama. Os Doze da Inglaterra A Ilha
dos Amores, O Velho do Restelo Inês de Castro, O Gigante
Adamastor - representação mítica do cabo da Boa Esperança,
cabo das tormentas que foi transformado em rocha pelo deus
Peleu, como vingança por ter seduzido sua esposa Tétis.
CANTO III Reinado de D. Afonso Episódio da Formosíssima
Maria Batalha de Salado Reinados de D. Pedro e de D. Afonso.
Túmulo
de Inês de Castro 118 "Passada esta tão próspera vitória,
Tornando Afonso à Lusitana terra, A se lograr da paz com
tanta glória Quanta soube ganhar na dura guerra, Aconteceu
da mísera e mesquinha Que depois de ser morta foi Rainha
119 "Tu só, tu, puro Amor, com força crua, Que os
corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta
morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero
Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É
porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue
humano. 120 "Estavas, linda Inês, posta em sossego, De
teus anos colhendo doce fruto, Naquele engano da alma, ledo
e cego, Que a fortuna não deixa durar muito, Nos saudosos
campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuto, Aos
montes ensinando e às ervinhas O nome que no peito escrito
tinhas. 121 "Do teu Príncipe ali te respondiam As
lembranças que na alma lhe moravam, Que sempre ante seus
olhos te traziam, Quando dos teus fermosos se apartavam: De
noite em doces sonhos, que mentiam, De dia em pensamentos,
que voavam. E quanto enfim cuidava, e quanto via, Eram tudo
memórias de alegria. 122 "De outras belas senhoras e
Princesas Os desejados tálamos enjeita, Que tudo enfim, tu,
puro amor, despreza, Quando um gesto suave te sujeita. Vendo
estas namoradas estranhezas O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo, e a fantasia Do filho, que casar-se não
queria, 123 "Tirar Inês ao mundo determina, Por lhe
tirar o filho que tem preso, Crendo co'o sangue só da morte
indina Matar do firme amor o fogo aceso. Que furor consentiu
que a espada fina, Que pôde sustentar o grande peso Do
furor Mauro, fosse alevantada Contra uma fraca dama
delicada? 124 "Traziam-na os horríficos algozes Ante o
Rei, já movido a piedade: Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade. Ela com tristes o
piedosas vozes, Saídas só da mágoa, e saudade Do seu Príncipe,
e filhos que deixava, Que mais que a própria morte a
magoava, 125 Súplica de Inês de Castro ao Rei "Para o
Céu cristalino alevantando Com lágrimas os olhos piedosos,
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando Um dos duros
ministros rigorosos; E depois nos meninos atentando, Que tão
queridos tinha, e tão mimosos, Cuja orfandade como mãe
temia, Para o avô cruel assim dizia: 126 - "Se já nas
brutas feras, cuja mente Natura fez cruel de nascimento, E
nas aves agrestes, que somente Nas rapinas aéreas têm o
intento, Com pequenas crianças viu a gente Terem tão
piedoso sentimento, Como coa mãe de Nino já mostraram, E
colos irmãos que Roma edificaram; 127 "Ó tu, que tens
de humano o gesto e o peito (Se de humano é matar uma
donzela Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração
a quem soube vencê-la) A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela; Mova-te a piedade sua
e minha, Pois te não move a culpa que não tinha. 128 -
"E se, vencendo a Maura resistência, A morte sabes dar
com fogo e ferro, Sabe também dar vicia com clemência A
quem para perdê-la não fez erro. Mas se to assim merece
esta inocência, Põe-me em perpétuo e mísero desterro, Na
Cítia fria, ou lá na Líbia ardente, Onde em lágrimas
viva eternamente. 129 "Põe-me onde se use toda a
feridade, Entre leões e tigres, e verei Se neles achar
posso a piedade Que entre peitos humanos não achei: Ali com
o amor intrínseco e vontade Naquele por quem morro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste, Que refrigério sejam
da mãe triste." 130 Morte de Inês de Castro
"Queria perdoar-lhe o Rei benino, Movido das palavras
que o magoam; Mas o pertinaz povo, e seu destino (Que desta
sorte o quis) lhe não perdoam. Arrancam das espadas de aço
fino Os que por bom tal feito ali apregoam. Contra uma dama,
ó peitos carniceiros, Feros vos amostrais, e cavaleiros?
131 "Qual contra a linda moça Policena, Consolação
extrema da mãe velha, Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro o duro Pirro se aparelha; Mas ela os olhos com
que o ar serena (Bem como paciente e mansa ovelha) Na mísera
mãe postos, que endoudece, Ao duro sacrifício se oferece:
132 "Tais contra Inês os brutos matadores No colo de
alabastro, que sustinha As obras com que Amor matou de
amores Aquele que depois a fez Rainha; As espadas banhando,
e as brancas flores, Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos, No futuro castigo não
cuidosos. 133 "Bem puderas, ó Sol, da vista destes
Teus raios apartar aquele dia, Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia. Vós, ó côncavos
vales, que pudestes A voz extrema ouvir da boca fria, O nome
do seu Pedro, que lhe ouvistes, Por muito grande espaço
repetisses! 134 Assim como a bonina, que cortada Antes do
tempo foi, cândida e bela, Sendo das mãos lascivas
maltratada Da menina que a trouxe na capela, O cheiro traz
perdido e a cor murchada: Tal está morta a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida A branca e viva cor, coa
doce vida. 135 "As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram, E, por memória eterna, em
fonte pura As lágrimas choradas transformaram; O nome lhe
puseram, que inda dura, Dos amores de Inês que ali
passaram. Vede que fresca fonte rega as flores, Que lágrimas
são a água, e o nome amores. Túmulo de Camões - Lisboa
CANTO IV Batalha de Aljubarrota Conquista de Ceuta Reinados
de D. Duarte, D. Afonso e D. João II Armada prestes a
largar Belém Episódio do Velho do Restelo 90 "Qual
vai dizendo: -" Ó filho, a quem eu tinha Só para
refrigério, e doce amparo Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro Por que me deixas, mísera
e mesquinha? Por que de mim te vás, ó filho caro, A fazer
o funéreo enterramento, Onde sejas de peixes
mantimento!" - 91 "Qual em cabelo: -"Ó doce
e amado esposo, Sem quem não quis Amor que viver possa, Por
que is aventurar ao mar iroso Essa vida que é minha, e não
é vossa? Como por um caminho duvidoso Vos esquece a afeição
tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento
Quereis que com as velas leve o vento?" - 92
"Nestas e outras palavras que diziam De amor e de
piedosa humanidade, Os velhos e os meninos os seguiam, Em
quem menos esforço põe a idade. Os montes de mais perto
respondiam, Quase movidos de alta piedade; A branca areia as
lágrimas banhavam, Que em multidão com elas se igualavam.
93 "Nós outros sem a vista alevantarmos Nem a mãe,
nem a esposa, neste estado, Por nos não magoarmos, ou
mudarmos Do propósito firme começado, Determinei de assim
nos embarcarmos Sem o despedimento costumado, Que, posto que
é de amor usança boa, A quem se aparta, ou fica, mais
magoa. 94
"Mas
um velho d'aspeito venerando, Que ficava nas praias, entre a
gente, Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça,
descontente, A voz pesada um pouco alevantando, Que nós no
mar ouvimos claramente, C'um saber só de experiências
feito, Tais palavras tirou do experto peito: 95 -"Ó glória
de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos
Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura
popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que
perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!
96 - "Dura inquietação d'alma e da vida, Fonte de
desamparos e adultérios, Sagaz consumidora conhecida De
fazendas, de reinos e de impérios: Chamam-te ilustre,
chamam-te subida, Sendo dina de infames vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana, Nomes com quem se o povo
néscio engana! 97 -"A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente? Que perigos, que mortes
lhe destinas Debaixo dalgum nome preminente? Que promessas
de reinos, e de minas D'ouro, que lhe farás tão
facilmente? Que famas lhe prometerás? que histórias? Que
triunfos, que palmas, que vitórias? 98 - "Mas ó tu,
geração daquele insano, Cujo pecado e desobediência, Não
somente do reino soberano Te pôs neste desterro e triste
ausência, Mas inda doutro estado mais que humano Da quieta
e da simples inocência, Idade d'ouro, tanto te privou, Que
na de ferro e d'armas te deitou: 99 - "Já que nesta
gostosa vaidade Tanto enlevas a leve fantasia, Já que à
bruta crueza e feridade Puseste nome esforço e valentia, Já
que prezas em tanta quantidades O desprezo da vida, que
devia De ser sempre estimada, pois que já Temeu tanto perdê-la
quem a dá: 100 - "Não tens junto contigo o Ismaelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas? Não segue ele do Arábio
a lei maldita, Se tu pela de Cristo só pelejas? Não tem
cidades mil, terra infinita, Se terras e riqueza mais
desejas? Não é ele por armas esforçado, Se queres por vitórias
ser louvado? 101 - "Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe, Por quem se despovoe o
Reino antigo, Se enfraqueça e se vá deitando a longe?
Buscas o incerto e incógnito perigo Por que a fama te
exalte e te lisonge, Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia? 102 - "Ó
maldito o primeiro que no mundo Nas ondas velas pôs em seco
lenho, Dino da eterna pena do profundo, Se é justa a justa
lei, que sigo e tenho! Nunca juízo algum alto e profundo,
Nem cítara sonora, ou vivo engenho, Te dê por isso fama
nem memória, Mas contigo se acabe o nome e glória. 103 -
"Trouxe o filho de Jápeto do Céu O fogo que ajuntou
ao peito humano, Fogo que o mundo em armas acendeu Em
mortes, em desonras (grande engano). Quanto melhor nos fora,
Prometeu, E quanto para o mundo menos dano, Que a tua estátua
ilustre não tivera Fogo de altos desejos, que a movera! 104
- "Não cometera o moço miserando O carro alto do pai,
nem o ar vazio O grande Arquiteto co'o filho, dando Um, nome
ao mar, e o outro, fama ao rio. Nenhum cometimento alto e
nefando, Por fogo, ferro, água, calma e frio, Deixa
intentado a humana geração. Mísera sorte, estranha condição!"
Túmulo de Vasco da Gama - Lisboa |