Urupês
Monteiro
Lobato
Urupês
é basicamente uma série de 14 contos, tendo como ênfase a vida
quotidiana e mundana do caboclo, através de seus costumes, crenças
e tradições.
Os
faroleiros
Dois
homens conversam sobre faróis, e um deles conta sobre a tragédia
do Farol dos Albatrozes, onde passou um tempo com um dos personagens
da trama: Gerebita. Gerebita tinha um companheiro, chamado Cabrea,
que ele alegava ser louco. Numa noite, travou-se uma briga entre
Gerebita e Cabrea, vindo este a morrer. Seu corpo foi jogado ao mar
e engolido pelas ondas. Gerebita alegava ter sido atacado pelos
desvarios de Cabrea, agindo em legítima pessoa. Eduardo, o
narrador, descobre mais tarde que o motivo de tal tragédia era uma
mulher chamada Maria Rita, que Cabrea roubara de Gerebita.
O
engraçado arrependido
Um
sujeito chamado Pontes, com fama de ser uma grande comediante e
sarrista, resolve se tornar um homem sério. As pessoas, pensando se
tratar de mais uma piada do rapaz negavam-lhe emprego. Pontes
recorre a um primo de influência no governo, que lhe promete o
posto da coletoria federal, já que o titular, major Bentes, estava
com sérios problemas cardíacos e não duraria muito tempo. A solução
era matar o homem mais rápido, e com aquilo que Pontes fazia de
melhor: contar piadas. Aproxima-se do major e, após várias
tentativas, consegue o intento. Morte, porém inútil: Pontes se
esquece de avisar o primo da morte, e o governo escolhe outra pessoa
para o cargo.
A
colcha de retalhos
Um
sujeito (o narrador) vai até o sítio de um homem chamado Zé
Alvorada para contratar seus serviços. Zé está fora e, enquanto não
chega, o narrador trata com a mulher (Sinhá Ana), sua filha de
quatorze anos (Pingo d'Água) e a figura singela da avó, Sinhá
Joaquina, no auge dos seus setenta anos. Joaquina passava a vida a
fazer uma colcha de retalhos com pedacinhos de tecido de cada
vestido que Pingo d'Água vestia desde pequenina. O último pedaço
haveria de ser o vestido de noiva. Passado dois anos, o narrador
fica sabendo da morte de Sinhá Ana e a fuga de Pingo d'Água com um
homem. Volta até aquela casa e encontra a velha, tristonha, com a
inútil concha de retalhos na mão. Em pouco tempo morreria...
A
vingança da peroba
Sentindo
inveja da prosperidade dos vizinhos, João Nunes resolve deixar de
lado sua preguiça e construir um monjolo (engenho de milho).
Contrata um deficiente, Teixeirinha, para fazer a tal obra. Em falta
de madeira boa para a construção, a solução é cortar a bela e
frondosa peroba na divisa das suas terras (o que causa uma tremenda
encrenca com os vizinhos). Teixeirinha, enquanto trabalha, conta a
João Nunes sobre a vingança dos espíritos das árvores contra os
homens que as cortam. Coincidência ou não, o monjolo não funciona
direito (para a gozação dos vizinhos) e João Nunes perde um
filho, esmagado pela engenhoca.
Um
suplício moderno
Ajudando
o coronel Fidencio a ganhar a eleição em Itaoca, Izé Biriba
recebe o cargo de estafeta (entregador de correspondências e outras
cargas). Obrigado a andar sete léguas todos os dias, Biriba perde
aos poucos a saúde. Resolve pedir demissão, o que lhe é negada.
Sabendo da próxima eleição, continua no cargo com a intenção de
vingança. Encarregado de levar um "papel" que garantiria
novamente a vitória de seu coronel, deixa de cumprir a missão.
Coronel Fidencio perde a eleição e a saúde, enquanto o coronel
eleito resolve manter Biriba no cargo. Este, então, vai embora
durante a noite...
Meu
conto de Maupassant:
Dois
homens conversam num trem. Um deles é ex-delegado e conta sobre a
morte de uma velha. O primeiro suspeito era um italiano, dono de
venda, que é preso. Solto por falta de provas, vem morar em São
Paulo. Passado algum tempo, novas provas incriminam o mesmo e, preso
em São Paulo e conduzido de trem ao vilarejo, se joga da janela.
Morte instantânea e inútil: tempo depois, o filho da velha
confessa o crime.
"Pollice
Verso"
O
filho do coronel Inácio da Gama, o Inacinho, forma-se em Medicina
no Rio de Janeiro e volta para exercer a profissão. Pensando em
arrecadar dinheiro para ir a Paris reencontrar a namorada francesa,
Inacinho começa a cuidar de um coronel rico. Como a conta seria
mais alta se o velho morresse, a morte não tarda a acontecer. O
caso vai parar na justiça, onde dois outros médicos velhacos dão
razão a Inacinho. O moço vai para Paris morar em Paris com a
namorada, levando uma vida boêmia. No Brasil, o orgulhoso coronel
Inácio da Gama fala aos ventos sobre o filho que andava
aprofundando os estudos com os melhores médicos da Europa.
Bucólica
Andando
pelos pequenos vilarejos e sítios interioranos, o narrador fica
sabendo da trágica história da morte da filha de Pedro Suã, que
morreu de sede. Aleijada e odiada pela mãe, a filha adoeceu e,
ardendo em febre numa noite, gritava por água. A mãe não lhe
atendeu, e a filha foi encontrada morta na cozinha, perto do pote de
água, para onde se arrastou.
O
mata-pau
Dois
homens conversam na mata sobre uma planta chamada mata-pau, que
cresce e mata todas as outras árvores ao seu redor. O assunto
termina no trágico caso de um próspero casal, Elesbão e Rosinha,
que encontram um bebê em suas terras e resolvem adotá-lo. Crescido
o menino, se envolve com a mãe e mata o pai. Com os negócios
paternos em ruína, resolve vendê-los, o que vai contra os gostos
da mãe-esposa. Esta quase acaba vítima do rapaz, e vai parar num
hospital, enlouquecida.
Bocatorta
Na
fazenda do Atoleiro, vivia a família do major Zé Lucas. Nas matas
da fazenda, havia um negro com a cara defeituosa com fama de
monstro: Bocatorta. Cristina, filha do major, morre justamente
alguns dias depois de ter ido com o pai ver a tal criatura. Seu
noivo, Eduardo, não agüenta a tristeza e vai até o cemitério
chorar a morte da amada. Encontra Bocatorta desenterrando a moça.
Volta correndo e, junto a um grupo de homens da fazenda, sai em
perseguição a Bocatorta. Esse, em fuga, morre ao passar num
atoleiro, depois de ter dado o seu único beijo na vida.
O
comprador de fazendas
Pensando
em se livrar logo da fazenda Espigão (verdadeira ruína para quem a
possui), Moreira recebe com entusiasmo um bem-apessoado comprador:
Pedro Trancoso. O rapaz se encanta com a fazenda e com a filha de
Moreira e, prometendo voltar na semana seguinte para fechar o negócio,
nunca mais dá notícias. Moreira vem a descobrir mais tarde que
Pedro Trancoso é um tremendo safado, sem dinheiro nem para comprar
pão. Pedro, no entanto, ganha na loteria e resolve comprar mesmo a
fazenda, mas é expulso por Moreira, que perdeu assim a única
chance que teve na vida de se livrar das dívidas.
O
estigma
Bruno
resolve visitar o amigo Fausto em sua fazenda. Lá conhece a bela
menina Laura, prima órfã de Fausto, e sua fria esposa. Fausto
convivia com o tormento de um casamento concebido por interesse e
uma forte paixão pela prima. Passado vinte anos, os amigos se
reencontram no Rio de Janeiro, onde Bruno fica sabendo da tragédia
que envolveu as duas mulheres da vida de Fausto: Laura sumiu durante
um passeio, e foi encontrada morta com um revólver ao lado da mão
direita. Suicídio misterioso e inexplicável. A fria esposa de
Fausto estava grávida e deu a luz a um menino que tinha um
sinalzinho semelhante ao ferimento de bala no corpo da menina.
Fausto vê o sinalzinho e percebe tudo: a mulher havia matado Laura.
Mostra o sinal do recém-nascido para ela que, horrorizada, padece
até a morte.
Velha
Praga
Artigo
onde Monteiro Lobato denuncia as queimadas da Serra da Mantiqueira
por caboclos nômades, além de descrever e denunciar a vida dos
mesmos.
Urupês
A
jóia do livro. Aqui, Monteiro Lobato personifica a figura do
caboclo, criando o famoso personagem “Jeca Tatu”, apelidado de
urupê (uma espécie de fungo parasita). Vive "e vegeta de cócoras",
à base da lei do menor esforço, alimentando-se e curando-se
daquilo que a natureza lhe dá, alheio a tudo o que se passa no
mundo, menos do ato de votar. Representa a ignorância e o atraso do
homem do campo. |