O
coronel e o lobisomem
José
Cândido de Carvalho
Romance
em primeira pessoa. Ponciano de Azevedo Furtado, neto de Simeão,
oficial superior da Guarda Nacional, espécie de herói picaresco
dos Campos dos Goitacazes, estado do Rio de Janeiro, conta suas façanhas
e seu esforço em lutar contra as mais variadas formas de injustiça:
contra o valente de circo (Vaca-Braba), contra o cobrador de
impostos, contra o tipo agiota. Espécie de cavaleiro andante das
causas perdidas, solteirão rico, é cobiçado pelas mães ansiosas
pelo casamento de suas filhas.
Apesar
de fraco no entendimento de coisas econômicas e administrativas
(especulação do açúcar) é um forte na arte de desencantar
assombrações e cair na artimanha de mulheres casadas. O Coronel e
o Lobisomem funde o realismo fantástico (inspirado na literatura de
cordel e na fábula), e o retrato dos resíduos da sociedade
patriarcal brasileira, valorizadora, da coragem e atrelada,
simultaneamente, a superstições e atavismos de toda a natureza.
Esse
realismo "fantástico" ou "mágico" que aproxima
José Cândido de Carvalho de autores importantes de ficção
latino-americana (Gabriel Garcia Marques, Vargas Losa, etc), pode
ser entendido como a resposta artística ao fenômeno de desmagicização
do mundo, resultado do violento choque entre o Ocidente que avança
e os povos extra-europeus que se rebelam, tentando consciente ou
inconscientemente, defender suas criaturas autóctones.É ainda uma
vez, a luta do instinto contra a civilização; do primitivo contra
o moderno, do mágico contra o racional, do surreal contra o real. |