Memórias
póstumas de Brás Cubas
Machado
de Assis
Memórias
póstumas de Brás Cubas conta à história de Brás Cubas a
partir de sua morte, já que inicialmente o próprio narrador
observa que para tornar a narrativa mais interessante e
"galante" havia decidido começá-la pelo fim _ ; ele era,
portanto, não um autor defunto, mas um defunto autor _ . Assim, o
primeiro capítulo começa justamente com a morte de Brás e seu
enterro _ _ .
A
causa de sua morte havia sido, oficialmente, uma pneumonia, da qual
ele não cuidou de forma correta. Entretanto, sua morte de fato
deve-se a uma idéia, segundo ele, grandiosa e útil, uma idéia que
se transformou em fixação. Um dia de manhã, caminhando pela chácara
onde vivia, pensou em inventar um medicamento sublime, um emplasto
anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a melancólica humanidade _
. Para justificar a criação de tal emplasto frente às
autoridades, Brás chamou a atenção de que a cura que traria seria
algo verdadeiramente cristão, além de não negar as vantagens
financeiras que tal produto traria. Contudo, já do outro lado do
mundo, confessa que o real motivo era ver seu nome escrito nas
caixinhas do medicamento e em todas as fontes publicitárias, pois
as embalagens levariam seu nome _ _ .
Brás
Cubas nasceu no dia 20 de outubro de 1805 _ . Foi uma grande festa
para toda a família. Houve muitas visitas à sua casa e o pai
estava orgulhoso por haver tido um filho homem. Todas as informações
dadas são curtas, mas revelam os mimos recebidos pelo garoto
durante toda a infância. Desde os cinco anos recebera o apelido de
"menino diabo". Reconhece ele mesmo que, de fato, foi um
dos mais malvados e travessos de seu tempo. Uma de suas diabruras
foi ter quebrado a cabeça de uma escrava porque ela lhe negara uma
colher de doce de coco, quando o menino tinha seis anos _ . Prudêncio,
um moleque escravo da família, era seu cavalo de todos os dias _ .
Brás conta ainda outras diabruras que fazia, entretanto, nada disso
parecia ter importância para seu pai, que o admirava e, se lhe
repreendia na presença dos outros, em particular lhe dava beijos _
.
Com
nove anos, o garoto assistiu em sua casa a um jantar organizado pelo
pai em comemoração à derrota de Napoleão. No final do jantar, Brás
queria uma compota de doces, mas todos estavam distraídos escutando
um dos letrados presentes, o doutor Vilaça, que fazia glosas e
recebia, naquele momento, todas as atenções dos convidados. O
menino começou a pedir o doce, depois gritou, berrou e foi tirado
da sala por tia Emerenciana. Isso bastou para que sentisse uma
enorme necessidade de vingança contra o doutor Vilaça. Ficou
vigiando-o até surpreendê-lo numa moita beijando dona Eusébia,
irmã de um sargento-mor. Para que todos soubessem, saiu pela chácara
gritando o que havia visto _ .
Em
seguida, após relatar tal episódio, Brás conta que cresceu
normalmente. Foi à escola, que ele chama de enfadonha, onde teve
aulas com um professor de nome Ludgero Barata. É justamente ali que
conhece um de seus melhores amigos de infância, Quincas Borba, com
quem se reencontrará mais tarde. Ambos os garotos revelam-se
travessos e mimados, já que o Quincas era filho único, adorado
pela mãe, que o vestia muito bem, mandando um pajem indulgente
acompanhá-lo a todos os lugares.
Passado
este período da vida do personagem, sobre o qual ele pouco fala,
revela-nos seu caso com uma prostituta espanhola, a primeira mulher
de sua vida. Brás a conheceu quando tinha dezessete anos. O jovem
estava completamente envolvido pelos encantos da bela Marcela, a
quem conseguiu conquistar, o que, contudo, lhe custou muitas jóias
caras e presentes diversos. Brás confessa-se muito apaixonado neste
período, motivo pelo qual o pai o enviou para estudar na Europa,
receoso do envolvimento profundo do filho com uma prostituta.
Brás
Cubas viaja para Portugal, onde estuda _ . Confessa haver sido um
estudante medíocre, mas nem por isso deixou de conseguir o diploma
_ . Nos tempos da universidade, apenas mencionados, preferia sair a
fazer qualquer tipo de tarefa ou estudo. O diploma que lhe conferem
estava longe de representar o conhecimento artificial que havia
adquirido, artificialidade esta que marcou toda sua vida e as ações
das pessoas que estavam à sua volta _ .
De
volta ao Rio, Brás chega a tempo de ver sua mãe viva, mas já
muito mal, à beira da morte, por causa de um câncer no estômago.
Pela primeira vez, deparava-se com uma perda real e confessa que até
então era um presunçoso que apenas havia se preocupado por coisas
fúteis _ . Estava inconformado com a morte da mãe, pois lhe
parecia uma enorme injustiça que uma pessoa tão santa, em seu
julgamento, pudesse morrer de tão implacável doença. Por isso
mesmo, após a missa de sétimo dia, resolveu passar algum tempo
numa velha propriedade da família localizada na Tijuca. Levou
consigo alguns livros, uma espingarda, roupas, charutos e Prudêncio.
Ali ficou durante uma semana, quando então já se mostrava cansado
da solidão e havia decidido voltar à cidade.
Justamente
neste momento, o escravo conta ao patrão que na noite anterior
havia se mudado para a casa ao lado, uma antiga amiga da família,
dona Eusébia, com uma filha. Brás reluta, não quer revê-la, já
que se lembra da travessura de infância, quando denunciara a mulher
e o doutor Vilaça que se beijavam às escondidas atrás de uma
moita _ . Prudêncio, entretanto, recorda-lhe que fora dona Eusébia
quem vestira sua mãe já morta. Ele decide, assim, visitá-la para
retornar em seguida para a cidade.
Nesse
mesmo dia, o pai de Brás sobe à chácara, pois quer sua volta à
vida social. Traz consigo dois projetos para o filho: uma
candidatura a deputado e um excelente casamento com uma moça de
nome Virgília, filha do conselheiro Dutra, importante político. Brás
reluta, mas o pai não se deixa vencer. Aconselha o filho,
dizendo-lhe que ele não devia ficar ali, era preciso temer a
obscuridade, as coisas pequenas. Conclui dizendo que o fundamental
era valer pelo que a sociedade pensava _ . Brás concorda,
finalmente, com os projetos e diz que descerá no dia seguinte, já
que antes precisava visitar dona Eusébia _ _ .
De
fato, a visita à velha amiga da família retardou a descida de Brás,
que permaneceu ainda alguns dias na chácara. Foi ali que conheceu
Eugênia, a quem ele mentalmente chamava "a flor da
moita", pois a jovem era fruto das relações ilícitas entre
dona Eusébia e o doutor Vilaça. O narrador simpatiza com a jovem
e, mais que isso, pensa que pode tirar proveito da situação.
Cinicamente, lembra-se de como era a mãe, motivo pelo qual espera
conseguir algo da filha. Consegue, é verdade, beijá-la,
entretanto, a moça revela-se dona de enorme dignidade, o que
confunde Brás Cubas. Além disso, ele descobre que Eugênia tem um
defeito de nascença: é coxa. Todos esses aspectos fazem com que
ele confirme que não se deve envolver seriamente com ela, já que,
além de tudo, ela estava em condição social inferior à sua _ .
Resolvido
a terminar qualquer tipo de relacionamento, Brás volta à cidade,
disposto a acatar os dois projetos do pai. Conhece Virgília, começam
a namorar e ele está em vias de candidatar-se. Neste ínterim,
passa por um ourives certo dia para consertar o vidro do relógio
que lhe havia caído e depara com Marcela, que agora está com o
rosto repleto de bexigas. A beleza de sua juventude desaparecera,
dando lugar à deformação, que o narrador faz questão de
descrever detalhadamente. Aquela visão o incomoda por algum tempo,
entretanto não dura muito, como praticamente todos seus problemas _
.
Algum
tempo depois de seu noivado com Virgília, surge, de repente, Lobo
Neves, homem inteligente e astuto, que lhe arrebata Virgília e a
candidatura. O pai não resistiu ao fracasso do filho, o que teria
acelerado sua morte, quatro meses depois, tempo durante o qual ele
repetia decepcionado a expressão "Um Cubas", inconformado
com a sorte do herdeiro da família.
Passada
a morte do pai, os irmãos Brás e Sabina, com a participação de
Cotrim - marido de Sabina -, fazem a partilha dos bens. Arma-se uma
grande e mesquinha discussão, os dois brigam por causa da herança
deixada pelo pai, desde propriedades até a prataria, motivo de
grande desavença, pois nenhum dos irmãos queria abrir mão da
antiga relíquia da casa, usada em ocasiões importantes como o
jantar em comemoração à derrota de Napoleão. No fim da disputa,
os dois irmãos saíram brigados e já não conversavam entre si.
Por
esta mesma época, Brás recebe de Luís Dutra, um primo de Virgília,
a notícia de que ela estava voltando de São Paulo com o marido,
então deputado. Encontram-se um dia e ela estava lindíssima _ .
Algum tempo depois, como haviam se encontrado em dois outros bailes,
o marido de Virgília convidou Brás Cubas para uma reunião íntima
em sua casa. Brás, por essa época, escrevia textos literários e
políticos em um jornal. Foi justamente nesta noite que os dois
antigos noivos tiveram um maior contato. A partir daí, reataram sua
antiga união, sobre a qual o narrador relata vários encontros e a
paixão que sentiam naquele momento _ .
Certo
dia, foi à casa de Virgília e encontrou-a triste, pois lhe parecia
que seu marido desconfiava de alguma coisa. Para Brás, a melhor
maneira de resolver o problema era que fugissem, mas Virgília não
concordou. O marido chegou justamente nesse momento, e ela
comportou-se como se nada houvesse acontecido, tratando friamente a
Brás, o que lhe dá um terrível ódio de Virgília. No dia
seguinte, ela o procurou com a idéia de que eles deveriam arrumar
uma casinha onde se encontrariam, um lugar que seria só deles, já
que sempre se encontravam na presença de outras pessoas,
principalmente do marido.
A
casinha da Gamboa foi, de fato, a saída encontrada pelos amantes
para que pudessem continuar seu romance, pois grande parte da
sociedade desconfiava de que havia algo entre os dois, por isso os
comentários estavam cada vez maiores. Assim, a casinha foi
importantíssima. Ali colocaram, D. Plácida, uma velha senhora
amiga da família de Virgília e podiam encontrar-se com maior tranqüilidade
_ .
Algum
tempo depois, entretanto, Lobo Neves foi convidado a ocupar uma
presidência da província no Norte. Os amantes ficaram
desesperados, mas a saída foi dada pelo próprio marido, que
convidou Brás a acompanhá-lo como seu secretário. Estava ainda
relutante, pois toda a gente comentava seus amores com Virgília.
Entretanto, o próprio Lobo Neves resolveu o problema ao recusar a
nomeação. Tudo porque o decreto que o nomeava trazia o número 13,
que ele considerava fatídico por vários acontecimentos tristes de
sua vida _ . Dessa forma, o casal continuou vivendo seu
relacionamento da mesma maneira que antes, na casinha da Gamboa.
Durante
tais acontecimentos, Brás Cubas se reencontra com Quincas Borba,
que está em uma situação deplorável, tornara-se um mendigo.
Quincas acaba roubando o relógio de Brás Cubas neste encontro.
Ainda nesse período, ocorre a reconciliação com a família,
motivo de alegria para o narrador, que volta a visitar regularmente
a irmã Sabina. Ela, como sempre, continua insistindo na idéia de
que Brás precisava se casar, um homem em sua posição não podia
continuar sem um herdeiro para o nome da família.
No
entanto, o amor de Brás Cubas e Virgília, neste momento, vive seu
ponto máximo, já que ambos haviam passado pela possibilidade de
separação em virtude da nomeação de Lobo Neves, o que fortaleceu
o sentimento que os unia. Além disso, Virgília disse estar grávida.
Brás não perde a oportunidade de comentar que aquele era um embrião
de "obscura paternidade", imaginava-o como sendo seu
filho, dono de um belo futuro, vendo-o ir à escola, tornando-se
bacharel e discursando na câmara dos deputados _ .
Contudo,
Virgília perdeu o filho que estava esperando. Além do mais, o
marido recebeu uma carta anônima acusando os dois amantes. A mulher
negou veementemente que aquilo pudesse ter qualquer fundo de
verdade, mas como Lobo Neves ficara desconfiado, Brás afastou-se da
residência do casal, mesmo porque o espaço da Gamboa continuava
resguardado. Algum tempo depois, Lobo Neves acabou reatando suas
relações com o Ministério, desgastadas devido à sua recusa em
aceitar o cargo anterior, conseguindo desta vez uma posição de
presidente de província. O narrador brinca com o número do
decreto, 31 agora, ressaltando que a simples inversão dos
algarismos bastou para que a vida tomasse novo rumo.
Brás
e Virgília mantêm um curto diálogo antes da partida, despedem-se
e ele conta que depois que ela viajou sentiu um misto de alívio e
saudade em doses iguais. Não houve desespero, nem mesmo dor, o fato
trouxe-lhe apenas alguns poucos dias de reclusão em sua casa e uma
pequena amostra do que era a viuvez. Morreram seu tio cônego,
Ildefonso, e dois primos, pelos quais ele não sofreu. Também
nasceu sua segunda sobrinha. Segundo ele, esta era a filosofia das
folhas velhas, que caem e morrem, enquanto outras nascem. Ele mesmo
agitava-se de quando em quando e recorria às suas cartas de
juventude _ .
Tal
reclusão, entretanto, como qualquer de seus pensamentos mais
profundos, passou rapidamente, em especial pelo reaparecimento de
Quincas Borba e seu envolvimento com Dona Eulália, chamada
familiarmente de Nhã-Loló. A jovem tinha dezenove anos, era
filha de Damasceno, faltava-lhe certa elegância, segundo Brás, mas
tinha belos olhos e uma expressão angelical. O narrador conheceu-a
ainda quando Virgília estava no Rio de Janeiro e estava grávida.
Sabina insistia na idéia de que Nhã-Loló seria uma excelente
esposa para o irmão, que se esquivava por aquela época.
Entretanto, quando se deu conta, estava praticamente nos braços da
jovem e acabaram ficando noivos três meses após a viagem de Virgília.
Acontece, porém, que a jovem morreu repentinamente, antes do
casamento, fato que nos vem anunciado não pela voz do narrador, mas
sim pela apresentação do epitáfio _ _ _ .
Em
relação ao Quincas Borba, ele reaparece após ter recebido uma
herança e voltado a ocupar boa posição social. O narrador observa
que o amigo está com um comportamento um pouco estranho. Quincas
defende uma filosofia criada por ele mesmo, o Humanitismo. Diz o filósofo
que o mundo é uma projeção de Humanitas, que seria a substância
de todas as coisas existentes, da qual elas emanam e para a qual
convergem. Dito de outra maneira, para ele, todos os homens são
iguais entre si, já que trazem consigo uma parte da tal substância
original e todas suas atitudes têm uma explicação que busca o
equilíbrio do mundo, mesmo que por meio da guerra e da violência,
já que tudo deve voltar para onde começou.
Nesse
sentido, ainda na visão do filósofo Quincas Borba, mesmo aquilo
que nos parece negativo tem uma função essencial. Segundo o seu
sistema, a dor e o sexo são excluídos do mundo, enquanto a guerra,
a fome e outras formas de violência existem para que o meio possa
selecionar aqueles que são mais fortes _ . Os mais fracos não
sobrevivem e assim deve ser. Além de tudo, devem sentir-se felizes
também, já que estão tomando parte do sistema do Humanitas. Em
outros termos, estes mais fracos, mesmo derrotados, estariam
servindo, de alguma maneira, ao princípio do qual descendem, que
prevê tais injustiças como forma de equilibrar o mundo ou até
mesmo de quebrar a monotonia universal _ _ .
Brás
Cubas, desde que conhece os princípios do Humanitismo até o final
de sua vida, esteve tentando entender melhor tal sistema, sempre
relacionando-o a algum acontecimento cotidiano de sua vida,
questionando sua validade ou não. Articula, então, uma série de
teorias e preocupações filosóficas, presentes inclusive em seu
delírio _ . Ali também o onça mata o novilho, pela sua sobrevivência,
o mais forte vence o mais fraco. Segundo o Humanitismo, não há
outra saída par a existência, de maneira que mesmo as coisas
negativas devem ser vistas como necessárias e justificadas, por
fazerem parte do sistema universal, por saírem daquela tal substância
básica da qual saímos todos e para a qual voltaremos, segundo
Quincas Borba.
Quincas
será uma personagem com quem Brás se encontra muitas vezes a
partir desse momento até a sua morte. Quanto à vida diária,
depois de algum tempo Brás tornou-se deputado e Lobo Neves voltou
ao Rio. Ambos estavam na mesma câmara e Brás ouvia um discurso
proferido pelo marido de Virgília. Não sentiu nenhum tipo de
remorso e reencontrou a antiga amante num baile em 1855. Observou
que continuava muito bonita, ainda que fosse, claro, uma beleza
diferente. Os dois conversaram muito, mas sem falar do passado. Brás
teve alguns momentos de reflexão e uma certa tristeza. Tinha cinqüenta
anos! Mas o Quincas garantiu-lhe que ele não poderia estar
preocupado, já que era a idade da ciência e do amadurecimento. Brás
decidiu então que participaria de maneira mais ativa das discussões,
já que tinha sido sempre um político afastado dos problemas, assim
como o era na vida pessoal. Almejava o cargo de ministro, coisa que
também não conseguiu e nem mesmo a explicação através de
Humanitas que lhe deu Quincas foi capaz de animá-lo.
Passado
algum tempo, Brás recebe uma carta de Virgília pedindo-lhe que vá
ver Dona Plácida, que está morrendo na miséria. Ele pensa
recusar, mas acaba indo, ajuda à mulher que lhe serviu de
alcoviteira durante tanto tempo. Morre Dona Plácida e Brás decide
fundar um jornal, que era uma aplicação política do Humanitismo.
Era um jornal oposicionista, o que preocupou Cotrim, que rompeu relações
com o cunhado. Algum tempo depois, morreu Lobo Neves, Brás Cubas
reconciliou-se novamente com o cunhado e filiou-se a uma Ordem
Terceira, responsável por ajudar as pessoas necessitadas. Cansou-se
depois de alguns meses. Na Ordem Terceira encontrou Marcela, que
morreu no mesmo dia em que ele visitava um cortiço no qual
encontrou Eugênia, segundo ele, tão coxa como a deixara e ainda
mais triste _ _ .
Finalmente,
Brás conta que Quincas Borba partiu para Minas Gerais algum tempo
antes e, ao voltar, estava louco. E, o mais triste e paradoxal,
tinha consciência de sua loucura. O narrador explica que entre a
morte do Quincas Borba e a sua aconteceram os episódios narrados no
começo do livro, em especial a idéia fixa da criação do emplasto
Brás Cubas. Conclui sua longa e entrecortada narrativa através de
um capítulo que busca resumir a vida pela negação: não alcançou
a celebridade, não foi califa, não se casou, não foi ministro.
Entretanto, observa que a negação também pode ser positiva: não
padeceu a morte de Dona Plácida ou a demência do Quincas Borba.
Assim, alguns leitores até poderiam imaginar que ele saiu quite com
a vida. Mas não. A negativa última revela o ceticismo do narrador
em relação ao mundo diz que ao não ter tido filhos seu saldo foi
positivo, pois assim não transmitiu a nenhuma criatura o legado de
nossa miséria. |