Gabriela
cravo e canela
Jorge
Amado
Modernismo
de segunda fase. Gabriela Cravo e Canela é dividido em duas partes,
que são em si, divididas em outras duas. A história começa em
1925, na cidade de Ilhéus. A primeira parte é Um Brasileiro das Arábias
e sua primeira divisão é O langor de Ofenísia. Vai centrando-se a
história nesta parte em dois personagens: Mundinho Falcão e Nacib.
Mundinho é um jovem carioca que emigrou para Ilhéus e lá
enriqueceu como exportador e planeja acelerar o desenvolvimento da
cidade, melhorar os portos e derrubar Bastos, o inepto governante.
Nacib é um sírio ("turco é a mãe!") dono do bar Vesúvio,
que se vê em meio a uma grande tragédia pessoal: a cozinheira de
seu partiu para ir morar com o filho e ele precisa entregar um
jantar para 30 pessoas em comemoração a inauguração de uma linha
automotiva regular para a cidade de Itabuna. Ele encomenda com um
par de gêmeas careiras, mas passa toda à parte procurando por uma
nova cozinheira. No final desta pequena parte aparece Gabriela, uma
retirante que planeja estabelecer-se em Ilhéus como cozinheira ou
doméstica, apesar dos pedidos do amante que planeja ganhar dinheiro
plantando cacau. A segunda parte desta primeira parte é A solidão
de Glória e passa-se apenas em um dia. O dia começa com o
amanhecer de dois corpos na praia, frutos de um crime passional
(todo mundo dá razão ao marido traído/assassino), segue com as
preparações do jantar e a contratação de Gabriela por Nacib. No
jantar acirram-se as diferenças políticas e, na prática,
declara-se à guerra pelo poder em Ilhéus entre Mundinho Falcão
(oposição) e os Bastos (governo). Quando o jantar acaba (em paz),
Nacib volta para casa e, quando ia deixar um presente para Gabriela
silenciosa, mas não inocentemente, tem com ela a primeira noite de
amor/luxúria.
A
segunda parte chama-se propriamente Gabriela Cravo e Canela e sua
primeira parte, o capítulo terceiro, chama-se O segredo de Malvina,
terceiro capítulo, passa-se cerca de três meses após o fim do
outro capítulo, e três problemas existem: o caso Malvina-Josué-Glória-Rômulo,
as complicações políticas e o ciúme de Nacib. Vamos pela ordem.
Josué era admirador de Malvina, filha de um coronel com espírito
livre. Esta começa a namorar Rômulo, um engenheiro chamado por
Mundinho Falcão para estudar o caso da barra (que impedia que
navios grandes atracassem no porto de Ilhéus). Josué se desaponta
e se interessa por Glória, amante de um outro coronel. Rômulo foge
após um escândalo feito pelo machista (tão machista quanto o
resto da sociedade ilheense) pai de Malvina, Malvina faz planos de
se libertar e Josué começa um caso em segredo com Glória. Na política,
acirra-se a disputa por votos ao ponto do coronel Bastos mandar
queimar toda uma tiragem do jornal de Mundinho. Mas Mundinho ganha
terreno com a chegada do engenheiro. E perde quando esse foge
covarde. E ganha com a promessa da chegada de dragas a Ilhéus.
Nacib enquanto isso desenvolveu um caso com Gabriela. Mas está
sendo atacado pelo ciúme (todos querem Gabriela, perfume de cravo,
cor de canela). Aos poucos ele percebe que é amor e acaba propondo
casamento a Gabriela após a última investida do juiz (alarme
falso, ele já havia desistido). Mas foi a tempo, já que até roças
do poderoso cacau de Ilhéus já haviam sido oferecidas a Gabriela.
O capítulo acaba durante a festa de casamento de Nacib e Gabriela
(no civil, já que Nacib é muçulmano não-praticante), quando
chegam as dragas no porto de Ilhéus. A quarta e última parte
chama-se O luar de Gabriela. Nesta resolvem-se todos os casos. Pela
ordem: Josué e Glória oficializam a relação e Glória é expulsa
de sua casa por seu coronel. Na parte da política, após o coronel
Ramiro Bastos perder o apoio de Itabuna (e mandar matar, sem
sucesso, seu ex-aliado; o quase assassino foge com a ajuda de
Gabriela, que o conhecia), ele morre placidamente em seu sono, seus
aliados reconhecem que estavam errados (a lealdade era com o homem,
não suas idéias) e a guerra política acaba com Mundinho e seus
candidatos vencedores. Quanto a Nacib e Gabriela... Gabriela não se
adapta de jeito nenhum à vida de "senhora Saad", para
desespero de Nacib. Nacib acaba anulando o casamento ao pegá-la na
cama com Tonico Bastos, seu padrinho de casamento. Mas ninguém ri
de Nacib; pelo contrário, Tonico é humilhado e sai da cidade, o
casamento é anulado sem complicações (os papéis de Gabriela eram
falsos) e Gabriela sai de casa. Nacib fica amargurado e vai se
recuperando. As obras na barra se completam com sucesso e Nacib e
Mundinho abrem um restaurante juntos. O cozinheiro chamado pelos
dois é... convidado a se retirar da cidade por admiradores de
Gabriela, que acaba sendo recontratada por Nacib. Semanas depois,
Nacib e ela reiniciam seu caso, tão ardente como era no começo e
deixara e ser após o casamento. Num epílogo, o coronel, assassino
dos dois amantes da primeira parte, é condenado à prisão. Cheio
de uma crítica à sociedade ilheense, a própria linguagem do autor
muda quando foca-se a atenção em Gabriela. Torna-se mais cantada,
mais típica da região (como é a fala de todos), deixando a
leitura cada vez mais saborosa. |