Campo
geral
Guimarães
Rosa
A
narrativa de Campo geral começa quando Miguilim é levado por Tio
Terez para ser crismado. O menino tem 8 anos e nunca saiu do Mutum,
afora pequenas mudanças que fez quando ainda muito pequeno. Desta
viagem, a lembrança mais nítida será de um comentário ouvido
sobre a beleza de Mutum. Profundamente impressionado com esta referência,
Miguilim não vê a hora de contá-la à mãe, Nhanina, sempre
triste de ali viver.
Ao
chegar em casa, vai tão aflito procurar a mãe, que acaba
desgostando a seu pai e recebe castigo: não o acompanha juntamente
com os irmãos na pescaria de domingo. Em contrapartida, aprende a
fazer arapuca para pegar passarinho com o Tio Terez.
A
rotina da casa inclui os brinquedos de Miguilim com seus irmãos
por ordem de idade, Drelina, Dito, Chica, Tomezinho. Há também
outro irmão, Liovaldo, mais velho que Miguilim, o único que não
mora com a família. Na cozinha, a mãe e as empregadas, Rosa, Maria
Pretinha e Mãitina, preparam as comidas. Nas cercanias, vivem os
diversos cachorros da família. Havia uma cadela, a Pingo-de-Ouro, a
que Miguilim era especialmente apegado, mas que foi dada pelo pai a
tropeiros de pernoite no Mutum.
A
descoberta de que Nhanina e Tio Terez tinham um caso causa grande
confusão. O pai bate na mãe, Miguilim tenta interrompê-lo e
termina sendo castigado _ . Vovó Izidra, sua tia-avó, é quem toma
a iniciativa de expulsar Tio Terez de casa, xingando-o de Caim.
Nesta noite, uma grande tempestade faz Dito e Miguilim conversarem
sobre o medo da morte. Para acalmar a todos, Vovó Izidra puxa uma
reza.
No
dia seguinte, Seo Deográcias, entendido de remédios, foi com o
filho, Patori, visitá-los. Queria, na verdade, pegar emprestado
alguns mantimentos e cobrar um dinheiro, mas aproveita para
aconselhar sobre a saúde de Miguilim, que a todos parecia frágil.
Aos
poucos, Miguilim começa a cismar que vai morrer. Faz uma promessa a
Deus: se ele não morresse nos próximos dias, não morreria mais.
Enquanto isso, se compromete a rezar uma novena. Contudo, os dias
passam, ele não principia a novena e vai ficando cada vez mais
ansioso. Começa então a rever vários momentos e se recorda da
habilidade de Dito em se comportar de modo que não desagrade o Pai,
da curiosidade que Patori lhe despertou sobre sexo, do aconchego que
sentia em criança de ficar nos braços de Mãitina. No derradeiro
dia, nem da cama ele quer sair. E até Seo Aristeu, outro curandeiro
da região, vir vê-lo, Miguilim não pode acreditar em outra coisa
que não fosse a morte chegando. Temia estar tísico, mas Seo
Aristeu logo foi explicando no seu jeito alegre de falar que essa
doença não dava por aquela parte dos Gerais.
O pai então toma uma decisão: a partir do próximo dia, Miguilim
irá levar-lhe comida na roça onde trabalhava. O menino fica muito
feliz de se sentir útil. Quando foi cumprir a tarefa pela primeira
vez, Tio Terez aparece no caminho e pede ao sobrinho um favor:
entregar um bilhete a Nhanina. O pedaço de papel no bolso põe
Miguilim num grande embate interior: o que seria mais certo fazer?
Sem contar o motivo, consulta todos sobre o que é certo ou errado.
Como sempre, é com Dito que Miguilim vai se orientar, tentando
pedir explicações que o irmão, apesar de menor, parece sempre
conhecer.
Depois
de uma tarde e de uma noite de dúvidas, Miguilim só resolve em
frente ao Tio Terez o que fazer: diz a verdade e devolve o bilhete.
O Tio então se dá conta em que horrível posição colocara o
sobrinho e se desculpa. Ainda atordoado, Miguilim deixa que os
macacos roubem a comida do tabuleiro. O pai se diverte com a história,
dando a sensação em Miguilim de ser amado.
Com
a chegada de Luisaltino, novo parceiro de trabalho de Nhô Bero, vem
à notícia de que Patori assassinou um rapaz e está foragido.
Patori acaba morrendo de fome, e Nhô Bero larga tudo para prestar
solidariedade a Seo Deográcias, que se desesperava com a perda do
filho. Mas o que mais agradou a Miguilim foi que Luisaltino traz
consigo um papagaio, o Papaco-o-Paco.
Uma
manhã, depois de ter ido espiar uma coruja, Dito pisa num caco de
pote e corta o pé. O tétano toma conta do menino e, em poucos
dias, ele morre. Miguilim se desespera e esse intenso sofrimento
parece não passar nunca. Mãitina tem uma idéia que o ajuda a
enfrentar a dor: juntou roupas e brinquedos de Dito e alguns
guardados seus e enterrou tudo no quintal, marcando depois o lugar
com pedrinhas lavadas do rio.
Para
tirá-lo dessa tristeza, Nhô Bero resolve pô-lo para trabalhar:
começa a debulhar milho, capinar a horta, buscar cavalo no pasto.
Miguilim não acha ruim trabalhar, mas não vê alegria em nada.
Para complicar, dias depois chegam Tio Osmundo e o irmão Liovaldo.
O
Tio não simpatiza com Miguilim e Liovaldo começa a provocá-lo. Até
que Liovaldo faz pequenas maldades com o menino Grivo e Miguilim,
indignado, acaba partindo para a briga. Nhô Bero fica tão furioso
que dá uma sova de correia no menino. Miguilim sente tanto ódio do
pai que nem chora: só pensa em crescer e matá-lo. Nhanina, para
abrandar a situação, manda Miguilim se hospedar na casa do
vaqueiro Saluz por três dias. Na volta, Miguilim não pede a bênção
ao pai, que então se vinga, soltando os passarinhos de Miguilim e
despedaçando as gaiolas. Miguilim por sua vez extravasa sua raiva,
quebrando os próprios brinquedos.
Quando o Tio e o irmão vão embora, Miguilim pela primeira vez se
alegra com a possibilidade de um dia ser ele a partir. Com esta idéia
na cabeça começa a se reanimar, a repassar tudo que aprendera com
Dito, mas termina por adoecer, o que desespera Nhô Bero. Durante a
sua convalescença, uma tragédia se precipita: Nhô Bero descobre
que Luisaltino o traía com sua mulher; mata o ajudante e, em
seguida, se suicida.
Seo
Aristeu tenta animar Miguilim. Nhanina conta sua intenção de casar
com Tio Terez, que a esta altura já está de volta. Miguilim, ainda
abatido com a doença e com todos os acontecimentos, vê chegar dois
homens a cavalo. Um deles logo repara no jeito de Miguilim olhar,
com os olhos apertados. O grupo vai para a casa e Miguilim é
examinado até que o homem, doutor José Lourenço, do Curvelo,
chega a um diagnóstico: vista curta. Tira os próprios óculos e
empresta ao menino, que nem pode acreditar em tudo que se revelou a
sua frente.
O
doutor se oferece para levar Miguilim para a cidade: providenciaria
os óculos e poria Miguilim para estudar. Miguilim aceita o convite
e se prepara para ir embora na manhã seguinte. Mas, antes de
partir, pede de novo os óculos. Quer levar consigo uma imagem nítida
da família e do Mutum, que, agora ele via, era realmente bonito.
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