A
hora da estrela
Clarice
Lispector
No
último livro publicado em vida, Clarice constrói a personagem de
Macabéa como vista pelo fictício, irônico e auto-depreciativo
escritor/narrador Rodrigo S.M. Macabéa era uma miserável alagoana
virada por uma cruel e ignorante tia beata (os pais, cujo nome Macabéa
ignora, morreram quando ela tinha dois anos). Macabéa cresce vazia
e sem ciência da própria existência ou de sua finitude.
Após
ser despedida e a tia morrer, ela emigra para o RJ, onde passa a
morar num cubículo com quatro colegas de seu novo trabalho (é
datilógrafa) e começa a namorar um paraibano chamado Olímpico de
Jesus. O ganancioso Olímpico, que não media esforços para
ascender socialmente, a troca por Glória, sua colega de trabalho,
que lhe possibilitaria esta ascensão. Depois de um pouco tempo ela
visita Carlota, uma cartomante, que lhe prevê um belo futuro.
Ao
sair da cartomante "grávida do futuro", como diz a
autora, ou seja, ciente de algo além do presente, é atropelada por
um carro de luxo e morre. Mas a história em si tem menor importância
no todo: para Clarice Lispector , a reflexão é mais importante do
que a ação. Macabéa é uma personagem sem conteúdo, pobre de
alma, um acaso que ensaia agir e pensar, mas com pouco sucesso. Ela
pouco faz, simplesmente reage e por vezes se indaga perguntas cuja
resposta ela não consegue. Isto vai até o momento de sua morte,
quando está mais ciente de si; ao ser atropelada torna-se a estrela
do que acontece: é sua hora de estrela. |