Agosto
Rubem
Fonseca
O
grande tema dos contos de Rubem Fonseca é a violência.
A violência que percorre as ruas brasileiras, numa espécie de
guerra civil não declarada entre ricos e pobres. A guerra se travou
internamente e Rubem Fonseca soube revelá-la.
O
que confere maior verossimilhança ainda a seus relatos são a técnica
narrativa e a linguagem. O escritor carioca sente-se à vontade nos
textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o
protagonista. Mas para tipo social existe uma linguagem distinta. O
policial tem o seu código, o seu estilo, e assim o político e
assim o advogado, numa multiplicidade lingüística verdadeiramente
assombrosa para um só autor.
Introdução
ao tema:
Com
um pé na ficção e outro na História, Rubem Fonseca faz deste
romance uma narrativa policial. A História não é só o pano de
fundo. Transcorrendo em agosto de 1954, o livro apresenta os vultos
históricos daqueles episódios, que culminaram com o suicídio de
Getúlio Vargas, como se fossem protagonistas do próprio romance.
Assim figuras como Getúlio Vargas, seu irmão Benjamim, a filha
Alzira, o polêmico tenente Gregório Fortunato, ministros (Tancredo
Neves, os militares Zenóbio de Castro e Mascarenhas de Moraes) o
brigadeiro Eduardo Gomes, só para citar alguns, têm voz e ato no
livro.
O
narrador apresenta com desenvoltura diálogos, ações, pensamentos,
dramas e dúvidas de personagens como estes. Simultaneamente à
narrativa da crise que levaria Getúlio ao suicídio, provocada pela
tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, o autor desenvolve a
história ficcional ao redor do personagem central do romance: o
comissário Alberto Matos.
Enredo:
Agosto
de 1954, caos e escândalos políticos aparecendo diariamente nas páginas
dos jornais. Getúlio Vargas, Presidente da República, começa
perder sua popularidade. O povo está dividido entre o Presidente e
Carlos Lacerda, jornalista implacável que diz desmascarar o governo
brasileiro. Gregório Fortunato - chefe da guarda pessoal de Vargas
- consciente de que o jornalista constitui uma ameaça, planeja um
atentado contra a sua vida.
Outro
crime acontece: o assassinato de um milionário em sua própria
residência, um luxuoso apartamento duplex, em bairro de classe média
alta, na cidade do Rio de Janeiro. São crimes que cercam a vida do
Comissário Mattos. Sofrendo de terrível úlcera no estômago,
envolvido com duas namoradas, o Comissário suspeita que a mão
negra que arma os pistoleiros da Rua dos Toneleros em Copacabana,
onde ocorre o atentado a Lacerda, deve ser a mesma que mata o milionário
na cama.
O
atentado a Lacerda fere um coronel da Marinha; explodem manifestações
na imprensa e nas ruas. O povo exige explicação do governo. Gregório
Fortunato é preso e começa a ser diariamente interrogado. O
presidente perde progressivamente sua base política, encontra-se
numa situação dúbia. Se renunciar, será ainda mais criticado
pelo povo; se permanecer no poder, terá que enfrentar a fúria da
UDN e de muitos militares importantes que já não o apóiam.
O
Comissário tem uma única pista do assassinato do milionário: um
anel dourado e alguns pêlos de negro no sabonete do banheiro. Suas
namoradas, Salete e Alice, no seu pé, perturbam-no. Alice, casada
com um rico empresário, Pedro Lomagno, desabafa seu drama: diz que
seu marido tem uma amante, Luciana Aguiar, viúva de Paulo Gomes
Aguiar, o homem cujo assassinato é investigado por Mattos. O Comissário,
por sorte acaba ouvindo algo de que realmente suspeita: o fato de
Pedro Lomagno ter um amigo negro, chamado Chicão.
Após
descobrir que o anel não pertence a Gregório Fortunato, a suspeita
recai sobre Chicão. O raciocínio é simples. Matar o amigo para
ficar com a mulher e a fortuna. Pedro sente a pressão do Comissário
e manda Chicão eliminá-lo.
Enquanto
isso, a situação se torna cada vez mais crítica par o Presidente.
A câmera mostra os xadrezes entupidos. Vargas marca uma reunião
com os ministros no Palácio do Catete. A reunião estende-se à
madrugada. Cada ministro faz a sua análise da situação política
nacional. Ao final, o Presidente, cansado, solitário e deprimido,
sobe para a ala residencial do Palácio e decide "sair da vida
para entrar na História". Um tiro no peito rouba-lhe a vida e
convulsiona o país. O suicídio é encarado como saída derradeira
para a situação catastrófica.
Com
o estômago ardendo, Mattos, após voltar do velório de Vargas, vai
para seu apartamento para se encontrar com Salete. Momentos mais
tarde, quando ambos se encontram deitados, percebem a presença
sorrateira de um negro alto e forte, que identificam como Chicão.
Mattos entrega-lhe o anel. Chicão não poupa nem a moça.
Ao
final do romance, temos uma quantidade de elementos: a corrupção
policial, as negociatas políticas no Senado e na Câmara, a compra
de favores. A derrota do único honesto, o Comissário Mattos, é
sinal da impossibilidade de existir algum resquício de honestidade
naquele meio. A última página do livro diz que "a cidade teve
um dia calmo", apenas dois dias após a turbulência da morte
de Getúlio Vargas. Afinal, esta é uma cena brasileira: as convulsões
ocorrem, mas tudo sempre volta à calma com o se nada tivesse
acontecido.
Obs.:Fato
histórico
Em
relação aos acontecimentos políticos do ano em questão, o livro
resgata o início do fim do já desgastado governo Vargas e das
corrupções que nele ocorriam. Este início foi marcado pelo
famigerado atentado da rua Toneleros, na qual o alvo era o
jornalista Carlos Lacerda, maior opositor ao governo de Getúlio
Vargas. Lacerda sai apenas ferido do atentado, enquanto que o major
Vaz, da Aeronáutica, que o acompanhava, morre. A partir de então,
unem-se forças de todos os lados contra Getúlio Vargas,
responsabilizando-o pelo atentado. A aeronáutica resolve fazer uma
investigação paralela à da polícia e consegue descobrir e
prender o atirador, Alcino, o motorista do carro e Climério,
subchefe da segurança do Palácio do Catete. Através deles chegam
ao mandante do crime, Gregório Fortunato, o Anjo Negro, chefe da
guarda pessoal de Getúlio Vargas. Com isto, as forças armadas,
Aeronáutica, Marinha e Exército, juntamente com a imprensa e a
opinião pública, dirigida pela mesma, forçam de todo o jeito a
renúncia de Vargas da Presidência da República. Acuado e sem
apoio, Vargas apela para a única saída honrosa para a crise, o
suicídio, onde em sua carta-testamento escreveu que saía da vida
para entrar na história.
Comentário
crítico:
Os
primeiros fatos da obra Agosto são reais (crime da Rua Toneleros e
o suicídio de Vargas). Contudo, o principal personagem, o Comissário
Mattos, é fictício. O Comissário, na verdade, é o "alter
ego" do autor Rubem Fonseca. A obra é narrada, em terceira
pessoa, do ponto de vista do ingênuo, porém inteligentíssimo,
Comissário.
Rubem Fonseca
não tece críticas à situação da época; ele,
simplesmente, narra os fatos do ponto de vista de alguém correto, vítima
de brutalidades políticas e de corrupção policial. O autor entra
na história que mancha o país e, por isso, cria este "outro
eu" para atingir seu objetivo. Visando dar conotação fictícia
à história que envolveu fatos reais, Fonseca cria outros
personagens, justamente para dar vida ao seu "alter ego”. É
o caso de suas namoradas. A obra, além de tudo, reflete ganâncias
e obsessão pelo poder. Apesar de complexa realidade que foi a década
de 50, Agosto é uma obra objetiva e fácil compreensão.
Com
este livro, o autor fornece uma análise imparcial dos conflitos políticos
e sociais do contexto histórico em que a obra está inserida
(1950-1954) e acaba despontando como um dos mais importantes
romancistas contemporâneos. Um dos pontos característicos dessa
obra é o intenso paralelismo entre os fatos reais e a ficção que,
somados a uma linguagem simples e coloquial, proporcionam ao leitor
uma leitura agradável.
Personagens:
Raimundo,
porteiro do edifício Deauville, abandona a portaria de madrugada.
Enquanto isso, acontece à morte de Paulo Gomes Aguiar. O comissário
Alberto Mattos encontrou um anel de ouro com a inicial "F"
gravada no banheiro do empresário morto. O chefe da guarda pessoal
de Getúlio programava um atentado contra Carlos Lacerda. Paulo
Gomes Aguiar era casado com Luciana e esta era amante de Pedro
Lomagno. Pedro era casado com Alice.
Inicialmente,
Mattos acha que o anel era de Gregório Fortunato, depois
descobriram que era de um negro por causa dos pelos encontrados no
sabonete. Mattos conversa com Raimundo e este diz que um negro foi
ao apartamento de Luciana. Luciana e Pedro dizem que foi um
macumbeiro. Pedro manda Chicão matar Raimundo. Pedro vai com Mattos
ver o macumbeiro, mas ele não era grande, forte e com os dedos
grossos como o anel indicava. Gregório era o mandante da Rua
Tonelero, onde Climério, Alcino e o taxista Nelson estavam
envolvidos. Alcino, ao invés de matar Lacerda, acabou matando o
Major Vaz. O taxista foi pego, pois sua placa foi identificada e
contou tudo. Climério foge e vai para Tinguá, mas é denunciado e
preso. A morte de Vaz tem uma percussão muito grande. Os aliados de
Lacerda estavam fazendo o povo acreditar que foi Getúlio Vargas que
mandou matar o Major Vaz. Os aliados queriam de Getúlio
renunciasse. Todos os policiais recebiam dinheiro dos banqueiros do
bicho para que os bicheiros não fossem presos. Mattos e Pádua eram
os únicos que não aceitam o suborno. Idílio tenta comprar Mattos
e este lhe dá um pontapé. Então Ilídio quis matar Mattos,
contratando Turco Velho. Os outros bicheiros não deixam que isso
ocorra. Pádua descobre que foi Turco Velho que quis matar Mattos e
o elimina. Luiz Magalhães Sustentava Salete e esta era namorada de
Mattos.
Gregório
é preso e diz que foi Lutero Vargas o mandante do crime da rua
Tonelero. Pedro Lomagno foi quem planejou a morte de Paulo Gomes
Aguiar. Paulo tinha que morrer ou acabaria levando a Cemtex à falência.
Contratou Chicão para matá-lo. Alice briga com Pedro e passa a
morar na casa de Mattos. Como era meio desequilibrada, tenta
incendiar a casa de Mattos. Getúlio Vargas estava sendo pressionada
a renunciar, então pediu licença do governo. Na mesma noite
suicidou-se. Houve revoltas do povo, indignados com a morte de Getúlio.
Mattos prende todos policiais numa sala e solta todos os presos.
Teodoro conversa com Rosalvo. Paulo Aguiar estava metido em
negociatas com o senador Freitas, licenças da importação foram
conseguidas com fraudes com Cexim. Sabia demais e foi morto. Eles
achavam que Mattos desconfiava que foi o senador Vitor Freitas que
mandou matar Paulo, para esconder sua participação na roubalheira.
Teodoro contou para Clemente sobre as suspeitas de Mattos. Clemente
contrata Genésio para matar Mattos. A cada dia que passa, Mattos
sofre mais com sua úlcera duodenal. Salete vai morar com ele em sua
casa. Chicão vaia a casa de Mattos e recebe se anel de ouro de
volta. Quando Mattos vai ligar para a polícia, Chicão mata Mattos
e Salete, a mando de Pedro Lomagno. Pois Mattos havia descoberto que
o assassino era Chicão e o perseguiria para sempre caso vivesse.
Pouco depois, Genésio chega na casa de Mattos e encontra os corpos
estendidos no chão. Genésio diz a Clemente e Teodoro que havia
matado Mattos e Salete. Com isso recebe seu dinheiro. Pádua
suspeita que foi Ilídio que mandou matar Mattos, então o mata. |