Rui
Barbosa, advogado, jornalista, jurista, político,
diplomata, ensaísta e orador, nasceu em Salvador, BA, em 5
de novembro de 1849, e faleceu em Petrópolis, RJ, em 1o de
março de 1923. Membro fundador da Academia, escolheu
Evaristo da Veiga como patrono da Cadeira n. 10 da Academia
Brasileira de Letras.
O
pai, João Barbosa de Oliveira, foi um homem voltado para os
problemas da educação e da cultura. Durante anos, dirigiu
a Instrução Pública de sua província. Ele foi a
principal influência na formação do filho, orientando-o
no amor à leitura dos clássicos e no respeito à documentação
em suas pesquisas.
Depois
dos estudos preparatórios na província natal, foi fazer o
curso jurídico em Recife. Conforme tradição da época,
transferiu-se, em 1868, para a Faculdade de Direito de São
Paulo. Lá foi proposto sócio, juntamente com Castro Alves,
do Ateneu Paulistano, então sob a presidência de Joaquim
Nabuco. Em sessões cívicas organizadas pelo Ateneu, recita
poemas seus. Antes do fim de seu segundo ano do curso, já
era jornalista conhecido. Após a formatura, em 1870,
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira na
tribuna e na imprensa, abraçando como causa inicial a abolição
da escravatura. Deputado provincial, e depois geral,
preconizou, juntamente com Joaquim Nabuco, a defesa do
sistema federativo. Convidado para ministro do Gabinete
Afonso Celso, pouco antes da proclamação da República,
Rui Barbosa recusou o cargo, porque este era, no momento,
incompatível com suas idéias federativas. Proclamada a República,
Rui foi escolhido para Ministro da Fazenda do Governo Provisório,
e respondeu, durante algum tempo, pela pasta da Justiça.
Eleito senador pela Bahia à Assembléia Constituinte, seus
conselhos prevaleceram nas reformas principais e a sua
cultura modelou as linhas fundamentais da Carta de 24 de
fevereiro de 1891. Discordando do golpe que levou Floriano
Peixoto ao governo, requereu habeas-corpus em favor dos
cidadãos presos pelo governo ditatorial de Peixoto. Como
redator-chefe do Jornal do Brasil, abriu campanha contra a
situação florianista. Em 1893, foi obrigado a se exilar.
Dirigiu-se, em primeiro lugar, para Buenos Aires, depois
para Lisboa, onde alguns incidentes levaram-no a escolher
Londres. Escreveu, então, as famosas Cartas da Inglaterra
para o Jornal do Commercio. Foi a primeira voz a levantar-se
no mundo contra o processo Dreyfus.
Restaurada
a ordem no Brasil, em 1895 Rui Barbosa regressou do exílio.
Tomou assento no Senado, no qual se conservaria até à
morte, sucessivamente reeleito. Destacam-se os seus
trabalhos na redação do Código Civil. Epitácio Pessoa,
então Ministro da Justiça, havia entregue essa tarefa a um
jovem jurista pernambucano, Clóvis Beviláqua. Rui se opôs
à pressa com que o governo realizara a obra. Depois de
revisto por várias comissões, foi o projeto ao Senado, em
3 de abril de 1902, e Rui Barbosa escreveu, em poucos dias,
o seu “Parecer”, que o levaria a uma polêmica, durante
a qual sua “Réplica” se tornaria famosa. Em 1905, a
Bahia levantou sua candidatura à presidência da República,
mas Rui abriu mão da mesma para decidir a favor de Afonso
Pena.
Quando,
em 1907, o czar da Rússia convocou a 2a Conferência da
Paz, em Haia, o Barão do Rio Branco, no Ministério das
Relações Exteriores, escolheu primeiramente Joaquim Nabuco
para chefiar a delegação brasileira, mas a imprensa e a
opinião pública lançaram o nome de Rui Barbosa. Joaquim
Nabuco recusou o lugar e dispôs-se a ajudar, com informações
de toda a espécie, o trabalho de Rui Barbosa, investido de
uma categoria diplomática não desfrutada até então por
nenhum país da América Latina.
Seu
papel em Haia foi de grande importância. Bateu-se sobretudo
pelo princípio da igualdade jurídica das nações
soberanas, enfrentando irredutíveis preconceitos das
chamadas grandes potências. Além de nomeado Presidente de
Honra da Primeira Comissão, teve seu nome colocado entre os
“Sete Sábios de Haia”. Os outros eram: o Barão
Marshall, Nelidoff, Choate, Kapos Meye, Léon Bourgeois e o
Conde Tornielli. De volta ao Brasil, interveio no início da
sucessão presidencial. Apresentada a candidatura do
marechal Hermes da Fonseca, a ela se opôs, lançando-se em
sua campanha civilista, de grande repercussão em todo o país.
Em 21 de julho de 1910, contestou perante o Senado a eleição
do Marechal.
Em
1913, fundou o Partido Liberal, sendo mais uma vez indicado
para a presidência da República, candidatura de que
desistiu. No ano seguinte, combateu o estado de sítio, numa
série de discursos no Senado. Durante a I Guerra Mundial,
tomou o partido dos aliados e produziu discursos lapidares
de execração à tirania e ao imperialismo. Nomeado
embaixador especial para as festas centenárias da Independência
argentina (1916), pronunciou notável conferência sobre as
“Modernas concepções do Direito Internacional”,
definindo os deveres dos países neutros. Em 1918, o Brasil
comemorou o jubileu cívico de Rui Barbosa e quase o mundo
inteiro associou-se a essa consagração. Convidado pelo
presidente Rodrigues Alves para representar o Brasil na
Conferência da Paz de Versalhes, recusou a embaixada,
expondo em famosa carta, dirigida ao chefe da Nação, as
razões da incompatibilidade. Em 1919, foi novamente
levantada sua candidatura à presidência da República, e
ele percorreu vários Estados, em campanha contra a decadência
dos nossos costumes políticos. A vitória da campanha foi
anulada pela intervenção militar. Por divergências, daí
resultantes, com o Governo Epitácio Pessoa, em 1920,
recusou a representação do Brasil na Liga das Nações.
Dentro das comemorações do seu jubileu jurídico, como
paraninfo dos bacharelandos de São Paulo, escreveu e
proferiu a Oração dos moços. Em 1921, foi eleito juiz da
Corte Internacional de Justiça, como o mais votado,
recebendo as mais significativas homenagens do Brasil e de
todo o mundo. Em 1922, proferiu o último discurso no
Senado, concedendo o estado de sítio ao governo para
dominar o movimento revolucionário. A notícia do seu
falecimento, em 1o de março de 1923, foi comentada no mundo
inteiro. O Times, de Londres, dedicou-lhe um espaço nunca
antes concedido a qualquer estrangeiro.
Na
produção imensa de Rui Barbosa, as obras puramente literárias
não ocupam a primazia. Ele próprio questionou se teria
sido um escritor por ocasião do seu jubileu cívico, a que
alguns quiseram chamar “literário”. Num discurso em
resposta a Constâncio Alves, destacou de sua obra as páginas
que poderiam ser consideradas literárias: O elogio do Poeta
(Castro Alves), a oração do Centenário do Marquês de
Pombal, o ensaio Swift, a crítica do livro de Balfour,
incluída nas Cartas de Inglaterra, o discurso do Liceu de
Artes e Ofícios sobre o desenho aplicado à arte
industrial, o discurso do Colégio Anchieta, o discurso do
Instituto dos Advogados, o Parecer e a Réplica acerca do Código
Civil, as traduções de poemas de Leopardi e das Lições
de coisas de Calkins, e alguns artigos esparsos de jornais.
A esta relação, Américo Jacobina Lacombe acrescentou
alguns dos discursos que Rui proferiu nos últimos cinco
anos de vida, como os do jubileu cívico e a Oração aos moços,
as outras produções reunidas em Cartas de Inglaterra, o
discurso a Anatole France, e o discurso de adeus a Machado
de Assis. A produção jornalística puramente literária, a
que Rui se referiu genericamente como “alguns artigos
esparsos de jornais”, daria alguns alentados volumes. |