José
Carlos do Patrocínio, jornalista, orador, poeta e
romancista, nasceu em Campos, RJ, em 8 de outubro de 1854, e
faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 30 de janeiro de 1905.
Compareceu às sessões preparatórias da instalação da
Academia Brasileira de Letras e fundou a Cadeira n. 21, que
tem como patrono Joaquim Serra.
Era
filho natural do padre João Carlos Monteiro, vigário da
paróquia e orador sacro de grande fama na capela imperial,
e de "tia" Justina, quitandeira. Passou a infância
na fazenda paterna da Lagoa de Cima, onde pôde observar,
desde criança, a situação dos escravos e assistir a
castigos que lhes eram infligidos. Por certo nasceu ali a
extraordinária vocação abolicionista. Tinha 14 anos
quando, tendo recebido apenas a educação primária, foi
para o Rio de Janeiro. Começou a trabalhar na Santa Casa de
Misericórdia e voltou aos estudos no Externato de João
Pedro de Aquino, fazendo os preparatórios do curso de Farmácia.
Ingressou na Faculdade de Medicina como aluno de Farmácia,
concluindo o curso em 1874. Sua situação, naquele momento,
se tornou difícil, porque os amigos da "república"
de estudantes voltavam para suas cidades de origem, e ele
teria que alugar outra moradia. Foi então que seu amigo João
Rodrigues Pacheco Vilanova, colega do Externato Aquino,
convidou-o a morar em São Cristóvão, na casa da mãe, então
casada em segundas núpcias com o capitão Emiliano Rosa
Sena. Para que Patrocínio pudesse aceitar sem
constrangimento a hospedagem que lhe era oferecida, o capitão
Sena propôs-lhe que, como pagamento, lecionaria aos seus
filhos. Patrocínio aceitou a proposta e, desde então,
passou também a freqüentar o "Clube Republicano"
que funcionava na residência, do qual faziam parte Quintino
Bocaiúva, Lopes Trovão, Pardal Mallet e outros. Não
tardou que Patrocínio se apaixonasse por Bibi, sendo também
por ela correspondido. Quando informado dos amores de sua
filha com Patrocínio, o capitão Sena sentiu-se revoltado,
mas, afinal, Patrocínio e Bibi se casaram. Já a esse tempo
Patrocínio iniciara a carreira de jornalista, na Gazeta de
Notícias, e sua estrela começava a aparecer. Com Dermeval
da Fonseca publicava os Ferrões, quinzenário que saiu de
1o de junho a 15 de outubro de 1875, formando um volume de
dez números. Os dois colaboradores se assinavam com os
pseudônimos Notus Ferrão e Eurus Ferrão. Dois anos
depois, Patrocínio estava na Gazeta de Notícias, onde tem
a seu cargo a "Semana Parlamentar", que assinava
com o pseudônimo Prudhome. Em 1879 iniciou ali a campanha
pela Abolição. Em torno dele formou-se um grande coro de
jornalistas e de oradores, entre os quais Ferreira de
Meneses, na Gazeta da Tarde, Joaquim Nabuco, Lopes Trovão,
Ubaldino do Amaral, Teodoro Sampaio, Paula Nei, todos da
Associação Central Emancipadora. Por sua vez, Patrocínio
começou a tomar parte nos trabalhos da associação.
Em
1881, passou para a Gazeta da Tarde, substituindo Ferreira
Meneses, que havia morrido. Na verdade, ele tornou-se o novo
proprietário do periódico, comprado com a ajuda do sogro.
Patrocínio tinha atingido a grande fase de seu talento e de
sua atuação social. Fundou a Confederação Abolicionista
e lhe redigiu o manifesto, assinado também por André Rebouças
e Aristides Lobo.
Em
1882, foi ao Ceará, levado por Paula Ney, e ali foi cercado
de todas as homenagens. Dois anos depois, o Ceará fez a
emancipação completa dos escravos. Em 1885, visitou
Campos, onde foi saudado como um triunfador. Regressando ao
Rio, trouxe a mãe, doente e alquebrada, que veio a falecer
pouco depois. Ao enterro compareceram escritores,
jornalistas, políticos, todos amigos do glorioso filho. Em
setembro de 1887, deixou a Gazeta da Tarde e passou a
dirigir a Cidade do Rio, que havia fundado. Ali se fizeram
os melhores nomes das letras e do periodismo brasileiro do
momento, todos eles chamados, incentivados e admirados por
Patrocínio. Foi de sua tribuna da Cidade do Rio que ele
saudou, em 13 de maio de 1888, o advento da Abolição, pelo
qual tanto lutara.
Em
1899, Patrocínio não teve parte na República e, em 1891,
opôs-se abertamente a Floriano Peixoto, sendo desterrado
para Cucuí. Em 93 foi suspensa a publicação da Cidade do
Rio, e ele foi obrigado a refugiar-se para evitar agressões.
Nos anos subseqüentes a sua participação política foi
pouca. Preocupava-se, então, com a aviação. Mandou
construir o balão "Santa Cruz", com o sonho de
voar. Numa homenagem a Santos Dumont, realizada no Teatro Lírico,
ele estava saudando o inventor, quando foi acometido de uma
hemoptise em meio ao discurso. Faleceu pouco depois, aos 51
anos de idade, aquele que é considerado por seus biógrafos
o maior de todos os jornalistas da Abolição. |