Graciliano
Ramos nasceu em Quebrangulo (AL) em outubro de 1892. Os
estudos secundários foram realizados em Maceió. Em 1914,
sem ter cursado qualquer faculdade, mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde trabalhou como revisor em alguns jornais.
Regressou ao seu Estado natal, fixando-se em Palmeira dos Índios,
como comerciante. Em 1920, ficou viúvo e responsável por
quatro filhos menores.
Nessa
época, trabalhava como jornalista e participava da vida política,
chegando a prefeito da cidade em 1928, cargo a que renunciou
em 1930. Em 1933, quando publicou seu primeiro livro, estava
em Maceió como diretor da Imprensa Oficial do Estado. Na
capital conheceu José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e
Jorge Amado. Graciliano dirigia também uma entidade: a
Instrução Pública de Alagoas.
Foi
preso em março de 1936, acusado de ligação com o Partido
Comunista. Prisão sem processo, mas que não evitou a
deportação do acusado, num porão de navio, para o Rio,
onde permaneceu encarcerado. Foi demitido do cargo de
Diretor da Instrução Pública e levado a diversos presídios,
até Janeiro de 1937, quando foi libertado. Dessa experiência
resultou a obra Memórias do cárcere, publicada em 1953.
Em
1945, com o fim do Estado Novo, filiou-se ao Partido
Comunista. Sete anos mais tarde, viajou pela antiga União
Soviética e parte da Europa. Dessas andanças resultou o
livro Viagem. O regresso ao Brasil coincidiu com o início
de sua doença. No ano seguinte, 1953, morreu no Rio de
Janeiro. Seu nome já era consagrado como o de maior
romancista brasileiro depois de Machado de Assis.
A
obra de Graciliano Ramos é a melhor ficção produzida na
segunda fase modernista e um dos pontos altos de nossa
literatura, em todos os tempos. O que há de comum entre
todas as obras de Graciliano? Claro que cada livro é um
livro, mas em todo grande escritor há, ligando uma obra a
outra, uma unidade. Essa unidade resulta da maneira como o
escritor entende a vida e a arte.
Quanto
à concepção de arte, a crítica evidencia no estilo de
Graciliano Ramos a ausência de sentimentalismo e a
capacidade de síntese, ou seja, a habilidade de dizer o
essencial em poucas palavras. A linguagem rigorosa, enxuta,
resulta de um trabalho consciente.
De
fato, o autor escrevia pouco e lentamente, submetendo seus
textos a várias revisões. Conta-se que jamais se sentia
inteiramente satisfeito com o resultado final.
Que
finalidade tinha para esse escritor a arte? Segundo o crítico
Antonio Candido, "no âmago de sua arte há um desejo
intenso de testemunhar sobre o homem...". Não apenas
sobre o homem do seu tempo e de seu meio, mas sobre as angústias
e dramas do homem de sempre.
Caetés,
São Bernardo e Angústia ilustram o mergulho do escritor na
alma humana, com a finalidade de descobrir o que está
debaixo da superficialidade da aparência. Escritos em
primeira pessoa, são narrativas que se prendem á análise
do mundo interior, mas sem desprezar o contexto sociopolítico
em que vive cada personagem. Pelo contrário, é do
contraste entre o eu mais íntimo e o ser social de cada um
que decorrem os conflitos.
Em
São Bernardo o desequilíbrio entre as duas
"camadas" do personagem-narrador - Paulo Honório
- manifesta-se na consciência de que o trabalho o levara a
agir da maneira que agia: despótica, tiranicamente, a ponto
de induzir a mulher, Madalena, ao suicídio. Aos poucos,
enquanto escreve sua história, Paulo Honório
conscientiza-se de que seu fracasso como ser humano foi
conseqüência de ter submetido tudo - inclusive suas relações
humanas - a um processo de coisificação em que o mais
importante era o ter, não o ser.
Nas
narrativas feitas em terceira pessoa - Vidas secas (romance)
e Insônia (contos) - prevalece à visão da realidade
social sobre a análise psicológica das personagens. Vidas
secas insere-se na linha regionalista, uma vez que nele
avulta o drama social e geográfico da região Nordeste. Se
nos romances em primeira pessoa interessava mais o homem,
aqui interessa o homem vinculado ao seu meio natural - o
sertão.
As
narrativas autobiográficas, Infância e Memórias do cárcere,
naturalmente estão presas à subjetividade do autor; mas não
se esgotam apenas no registro de seu drama pessoal, pois
ultrapassam o individual para atingir o social e o
universal. Assim, Memórias do cárcere não é o relato
puro e simples do sofrimento e humilhações do homem
Graciliano Ramos; é a análise da prepotência que marcou a
ditadura Vargas e que, em última análise, marca qualquer
ditadura. |