Antônio
Gonçalves Dias, poeta, professor, crítico de história,
etnólogo, nasceu em Caxias, MA, em 10 de agosto de 1823, e
faleceu em naufrágio, no baixio dos Atins, MA, em 3 de
novembro de 1864. É o patrono da Cadeira n. 15, por escolha
do fundador Olavo Bilac.
Era
filho de João Manuel Gonçalves Dias, comerciante português,
natural de Trás-os-Montes, e de Vicência Ferreira, mestiça.
Perseguido pelas exaltações nativistas, o pai refugiara-se
com a companheira perto de Caxias, onde nasceu o futuro
poeta. Casado em 1825 com outra mulher, o pai levou-o
consigo, deu-lhe instrução e trabalho e matriculou-o no
curso de latim, francês e filosofia do prof. Ricardo Leão
Sabino. Em 1838 Gonçalves Dias embarcaria para Portugal,
para prosseguir nos estudos, quando faleceu-lhe o pai. Com a
ajuda da madrasta pôde viajar e matricular-se no curso de
Direito em Coimbra. A situação financeira da família
tornou-se difícil em Caxias, por efeito da Balaiada, e a
madrasta pediu-lhe que voltasse, mas ele prosseguiu nos
estudos graças ao auxílio de colegas, formando-se em 1845.
Em Coimbra, ligou-se Gonçalves Dias ao grupo dos poetas que
Fidelino de Figueiredo chamou de "medievalistas".
À influência dos portugueses virá juntar-se a dos românticos
franceses, ingleses, espanhóis e alemães. Em 1843 surge a
"Canção do exílio", um das mais conhecidas
poesias da língua portuguesa.
Regressando
ao Brasil em 1845, passou rapidamente pelo Maranhão e, em
meados de 1846, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde
morou até 1854, fazendo apenas uma rápida viagem ao norte
em 1851. Em 46, havia composto o drama Leonor de Mendonça,
que o Conservatório do Rio de Janeiro impediu de
representar a pretexto de ser incorreto na linguagem; em 47
saíram os Primeiros cantos, com as "Poesias
americanas", que mereceram artigo encomiástico de
Alexandre Herculano; no ano seguinte, publicou os Segundos
cantos e, para vingar-se dos seus gratuitos censores,
conforme registram os historiadores, escreveu as Sextilhas
de frei Antão, em que a intenção aparente de demonstrar
conhecimento da língua o levou a escrever um "ensaio
filológico", num poema escrito em idioma misto de
todas as épocas por que passara a língua portuguesa até
então. Em 1849, foi nomeado professor de Latim e História
do Colégio Pedro II e fundou a revista Guanabara, com
Macedo e Porto Alegre. Em 51, publicou os Últimos cantos,
encerrando a fase mais importante de sua poesia.
A
melhor parte da lírica dos Cantos inspira-se ora da
natureza, ora da religião, mas sobretudo de seu caráter e
temperamento. Sua poesia é eminentemente autobiográfica. A
consciência da inferioridade de origem, a saúde precária,
tudo lhe era motivo de tristezas. Foram elas atribuídas ao
infortúnio amoroso pelos críticos, esquecidos estes de que
a grande paixão do Poeta ocorreu depois da publicação dos
Últimos cantos. Em 1851, partiu Gonçalves Dias para o
Norte em missão oficial e no intuito de desposar Ana Amélia
Ferreira do Vale, de 14 anos, o grande amor de sua vida,
cuja mãe não concordou por motivos de sua origem bastarda
e mestiça. Frustrado, casou-se no Rio, em 1852, com Olímpia
Carolina da Costa. Foi um casamento de conveniência, origem
de grandes desventuras para o Poeta, devidas ao gênio da
esposa, da qual se separou em 1856. Tiveram uma filha,
falecida na primeira infância.
Nomeado
para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na
Europa de 1854 a 1858, em missão oficial de estudos e
pesquisa. Em 56, viajou para a Alemanha e, na passagem por
Leipzig, em 57, o livreiro-editor Brockhaus editou os
Cantos, os primeiros quatro cantos de Os Timbiras, compostos
dez anos antes, e o Dicionário da língua tupi. Voltou ao
Brasil e, em 1861 e 62, viajou pelo Norte, pelos rios
Madeira e Negro, como membro da Comissão Científica de
Exploração. Voltou ao Rio de Janeiro em 1862, seguindo
logo para a Europa, em tratamento de saúde, bastante
abalada, e buscando estações de cura em várias cidades
européias. Em 25 de outubro de 63, embarcou em Bordéus
para Lisboa, onde concluiu a tradução de A noiva de
Messina, de Schiller. Voltando a Paris, passou em estações
de cura em Aix-les-Bains, Allevard e Ems. Em 10 de setembro
de 1864, embarcou para o Brasil no Havre no navio Ville de
Boulogne, que naufragou, no baixio de Atins, nas costas do
Maranhão, tendo o poeta perecido no camarote, sendo a única
vítima do desastre, aos 41 anos de idade.
Todas
as suas obras literárias, compreendendo os Cantos, as
Sextilhas, a Meditação e as peças de teatro (Patkul,
Beatriz Cenci e Leonor de Mendonça), foram escritas até
1854, de maneira que, seguindo Sílvio Romero, se tivesse
desaparecido naquele ano, aos 31 anos, "teríamos o
nosso Gonçalves Dias completo". O período final, em
que dominam os pendores eruditos, favorecidos pelas comissões
oficiais e as viagens à Europa, compreende o Dicionário da
língua tupi, os relatórios científicos, as traduções do
alemão, a epopéia Os Timbiras, cujos trechos iniciais, que
são os melhores, datam do período anterior.
Sua
obra poética, lírica ou épica, enquadrou-se na temática
"americana", isto é, de incorporação dos
assuntos e paisagens brasileiros na literatura nacional,
fazendo-a voltar-se para a terra natal, marcando assim a
nossa independência em relação a Portugal. Ao lado da
natureza local, recorreu aos temas em torno do indígena, o
homem americano primitivo, tomado como o protótipo de
brasileiro, desenvolvendo, com José de Alencar na ficção,
o movimento do "Indianismo". Os indígenas, com
suas lendas e mitos, seus dramas e conflitos, suas lutas e
amores, sua fusão com o branco, ofereceram-lhe um mundo
rico de significação simbólica. Embora não tenha sido o
primeiro a buscar na temática indígena recursos para o
abrasileiramento da literatura, Gonçalves Dias foi o que
mais alto elevou o Indianismo. A obra indianista está
contida nas "Poesias americanas" dos Primeiros
cantos, nos Segundos cantos e Últimos cantos, sobretudo nos
poemas "Marabá", "Leito de folhas
verdes", "Canto do piaga", "Canto do
tamoio", "Canto do guerreiro" e "I-Juca-Pirama",
este talvez o ponto mais alto da poesia indianista. É uma
das obras-primas da poesia brasileira, graças ao conteúdo
emocional e lírico, à força dramática, ao argumento, à
linguagem, ao ritmo rico e variado, aos múltiplos
sentimentos, à fusão do poético, do sublime, do
narrativo, do diálogo, culminando na grandeza da maldição
do pai ao filho que chorou na presença da morte.
Pela obra lírica e indianista, Gonçalves Dias é um
dos mais típicos representantes do Romantismo brasileiro e
forma com José de Alencar na prosa a dupla que conferiu caráter
nacional à literatura brasileira. |