Euclides
Rodrigues Pimenta da Cunha, engenheiro, jornalista,
professor, ensaísta, historiador, sociólogo e poeta,
nasceu em Cantagalo, RJ, em 20 de janeiro de 1866, e faleceu
no Rio de Janeiro em 15 de agosto de 1909. Eleito em 21 de
setembro de 1903 para a Cadeira n. 7, na sucessão de
Valentim Magalhães, foi recebido em 18 de dezembro de 1906,
pelo acadêmico Sílvio Romero.
Era
filho de Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha e de Eudóxia
Moreira da Cunha. Manuel Rodrigues era baiano, pertencia à
geração romântica de Castro Alves e fazia versos de
inspiração humanitária e social. Órfão de mãe aos três
anos de idade, Euclides fez os primeiros estudos em São Fidélis.
Depois de freqüentar vários estabelecimentos, concluiu o
curso de humanidades no Colégio Aquino, tendo sido ali discípulo
de Benjamin Constant. Com outros companheiros, fundou o
jornal O Democrata, onde publicou as composições líricas
das Ondas, o curioso caderno de 84 poesias, onde já se
expressam as amarguras e os arroubos do seu gênio nascente.
Em
1884, matriculou-se na Escola Politécnica. Dois anos depois
assentou praça na Escola Militar, às vésperas de 89. Os
trabalhos da Revista da Família Militar bem revelam as
inspirações daquela mocidade republicana. Em 1888, ocorreu
o episódio de insubordinação que ficou famoso, no qual
Euclides da Cunha lançou aos pés do ministro da Guerra,
conselheiro Tomás Coelho, a sua espada de cadete. Submetido
a Conselho de Guerra, foi, por seu ato de indisciplina,
desligado do Exército. Mudou-se para São Paulo e iniciou,
a convite de Júlio Mesquita, uma série de artigos.
Regressou
ao Rio, onde assistiu à proclamação da República. Seus
antigos colegas da Escola Militar, todos republicanos como
ele, por iniciativa de Cândido de Rondon, foram a Benjamin
Constant e solicitaram a reintegração de Euclides da Cunha
no Exército. É de 19 de novembro de 1889 o ato de sua
promoção a alferes-aluno. Em 1890, concluiu o curso da
Escola Superior de Guerra como primeiro-tenente. Foi
trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil em São
Paulo e Caçapava. Na revolta de 1893, foi um dos partidários
veementes da legalidade. Eventos posteriores e a circunstância
de ser genro do general Sólon, preso por Floriano Peixoto,
tornaram Euclides da Cunha suspeito. Em 1896, deixou o Exército
e volveu à engenharia civil, sendo nomeado engenheiro
ajudante da Superintendência de Obras do Estado de São
Paulo.
Quando
irrompeu o movimento de Canudos, São Paulo colaborou com o
país na repressão do conflito, mandando para o teatro da
luta o Batalhão Paulista. Euclides foi encarregado pelo
jornal Estado de S. Paulo para acompanhar como observador de
guerra o movimento rebelde chefiado por Antônio Conselheiro
no arraial de Canudos, em pleno sertão baiano. Estava ele
no teatro de operações de 1 a 5 de outubro de 1897 e ali
assistiu aos últimos dias da luta do Exército com os fanáticos
de Antonio Conselheiro. Em Salvador, havia procedido a um
profundo estudo prévio da situação no que respeita aos
aspectos geográfico, botânico e zoológico da região, bem
como aos antecedentes sociológicos do conflito.
Documentou-se de modo exaustivo e exato, formando sobre o
caso um juízo imparcial e objetivo. Enviou então para o
jornal as suas reportagens, que iriam transformar-se no seu
grande livro, Os sertões. Em 1898, fixou-se em São José
do Rio Pardo, onde redigiu o livro, incentivado pelo seu
grande amigo, Francisco Escobar. São José do Rio Pardo
conserva até hoje a memória de Euclides da Cunha.
Trabalhando
como engenheiro e como escritor, Euclides da Cunha realizou
dois trabalhos ao mesmo tempo: quando acabou a construção
de sua ponte, acabou também a composição de Os Sertões
livro que foi escrito num barracão de madeira, hoje
conservado como uma relíquia. Tentou inutilmente publicá-lo
no Estado de S. Paulo. Afinal, trazendo uma carta de Garcia
Redondo para Lúcio de Mendonça, foi ao Rio de Janeiro
tratar da publicação dos Sertões. O livro saiu em 1902 e
obteve êxito sem precedentes em nossa literatura,
consagrado pela crítica como obra-prima. No ano seguinte,
Euclides era eleito para o Instituto Histórico e para a
Academia Brasileira de Letras.
Em
1904, Oliveira Lima apresentou Euclides da Cunha ao barão
do Rio Branco, que o nomeia chefe da Comissão Brasileira no
Alto Purus, para demarcação de fronteiras. Em Manaus era hóspede
do seu velho amigo Alberto Rangel. Seguindo para o local a
que se destinava, atingiu com a Comissão Mista a foz do
Pucani, as últimas vertentes do Purus, realizando assim um
dos atos de bandeirismo mais destemidos que se conhecem.
Regressando a Manaus, redigiu o "Relatório" da
Comissão. Em 1907, passou a trabalhar no Itamarati. São
dessa fase os livros Peru versus Bolívia e Contrastes e
confrontos, cujas páginas também resultaram de artigos
anteriormente escritos para o Estado de S. Paulo. Em 1908,
inscreveu-se num concurso de Lógica, no Pedro II. Foi
nomeado professor após ter-se submetido à banca
examinadora formada por Raja Gabaglia, Paulo de Frontin e
Paula Lopes. Como professor, deu apenas 19 aulas, de 21 de
julho a 13 de agosto. Na manhã de 15 de agosto de 1909, na
Estação de Piedade, Estrada Real de Santa Cruz, caía,
ferido por uma bala de revólver, aquele que se tornou, por
uma tácita eleição da alma nacional, o gênio por excelência
representativo da terra, da gente e das mais elevadas aspirações
brasileiras.
A
publicação de Os sertões é um marco na vida mental do
Brasil. Livro único, sem igual em outras literaturas,
misturando o ensaio, a história, as ciências naturais, a
epopéia, o lirismo, o drama, mostra a definitiva conquista
da consciência de brasilidade pela vida intelectual do país.
A importância literária e científica dessa obra,
reconhecida, logo de início, pela crítica autorizada de
José Veríssimo e Araripe Júnior, e confirmada pelas
sucessivas apreciações posteriores, explica o segundo
plano em que ficaram as demais obras de Euclides da Cunha.
Mas, em Peru versus Bolívia, Contrastes e confrontos e À
margem da história também se encontram páginas literárias
em que ficaram impressas as marcas inconfundíveis do seu
estilo, a objetividade das conclusões, oriundas sempre da
observação direta da realidade enfocada e de análises
percucientes e honestas, expostas com a coragem de um
escritor participante, que só tinha compromissos com a
verdade. |