Celso
Ferreira da Cunha, professor, filólogo e ensaísta, nasceu
em Teófilo Otoni, MG, em 10 de maio de 1917, e faleceu no
Rio de Janeiro, RJ, em 14 de abril de 1989. Eleito em 13 de
agosto de 1987 para a Cadeira n. 35, na sucessão de José
Honório Rodrigues, foi recebido em 4 de dezembro de 1987,
pelo acadêmico Abgar Renault.
Era
filho de Tristão da Cunha, professor e político mineiro, e
de Júlia Versiani da Cunha e irmão do ex-deputado Aécio
Cunha. Em 1921 sua família transferiu-se para o Rio de
Janeiro, onde iniciou sua formação no Colégio
Anglo-Brasileiro. Bacharelou-se em Direito (1938) e
licenciou-se em Letras (1940) pela antiga Universidade do
Distrito Federal. Aí teve entre seus professores filólogos
de renome na Europa, como Jean Bourciez, Jacques Perret e
Georges Millardet, e os brasileiros Antenor Nascentes e
Sousa da Silveira, a quem Celso Cunha devotou, ao longo de
sua vida, o mais profundo respeito e a quem deveu a sua opção
pela crítica textual e o gosto pelos jograis e trovadores
da Idade Média.
Em
1947, formou-se Doutor em Letras e Livre Docente em
Literatura Portuguesa pela Faculdade Nacional de Filosofia
da Universidade do Brasil, com a tese O cancioneiro de Paay
Gómez Charinho, trovador do século XIII.
Ser
filólogo era, na época, conhecer a história da língua e,
com base no latim e no desenvolvimento das línguas que dele
se originaram, aprofundar-se na Romanística e descobrir,
pela aplicação do método histório-comparativo, a origem
e solução de seus problemas. Por essa razão os seus
primeiros trabalhos tiveram por objeto o português arcaico.
Celso
Cunha deu contribuição essencial para o estudo dos
cancioneiros, fundamentais para o conhecimento da origem e
evolução da língua. Seus três livros sobre os
cancioneiros foram tese de concurso: o de Paay Gómez
Charinho (1947), Joan Zorro (1949) e Martin Codax (1956).
Medievalista consagrado, sua obra filológica versa
particularmente sobre os problemas de crítica textual e de
versificação. Os seus trabalhos nessa área como Estudos
de poética trovadoresca e Língua e verso têm sido
considerados modelares pela crítica especializada. Nos últimos
anos, dedicava-se à linguagem quinhentista e ao estudo da
modalidade brasileira do português. Deixou incompleta a
História da língua portuguesa no Brasil.
Outra
vertente dos seus estudos está nas inúmeras gramáticas
que escreveu, a começar pelo Manual de português,
publicado em 1965 e com muitas reedições. Fazia o roteiro
para os vários níveis de ensino aos quais se dedicava no
Colégio Pedro II e na Faculdade de Filosofia. Editou uma
Gramática do português contemporâneo (1966), uma Gramática
moderna e uma Gramática da língua portuguesa (1972). Seu
último trabalho de vulto foi à Nova Gramática do português
contemporâneo, escrita em colaboração com Luís Filipe
Lindley Cintra, da Universidade de Lisboa. O livro trabalha
na chamada lingüística contrastiva, que busca um código
contrastivo da lusofonia. Nele se examinam, pela primeira
vez, em confronto, as normas brasileiras, portuguesas e
africanas do idioma.
A
terceira vertente da obra de Celso Cunha é a de ensaios com
reflexões sobre a língua, entre os quais os livros Língua
portuguesa e realidade brasileira, A questão da norma culta
brasileira, Uma política do idioma, Conservação e inovação
do português no Brasil, Língua, nação, alienação e Em
torno do conceito de brasileirismo.
Iniciou
a carreira do magistério em 1935, como professor contratado
de Português do Colégio Pedro II. Foi professor titular de
Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, de onde foi Decano do Centro de
Letras e Artes; professor titular e, por dez anos, diretor
da Faculdade de Humanidades Pedro II. De 1952 a 1955, de
1970 a 1972 e em 1983, lecionou a sua especialidade na
Sorbonne. Em 1966 foi Gastprofessor na Universidade de Colônia;
Professeur Associé da Universidade de Paris-Sorbonne, de
1970 a 1972 e em 1983. Em 1984, lecionou História da Língua
Portuguesa no curso de pós-graduação da Universidade Clássica
de Lisboa. Recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa pela
Universidade de Granada, Espanha (1959), e de Professor Emérito
da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1987).
Foi
professor como seu pai Tristão da Cunha e seu avô Benjamin
Ferreira da Cunha, e como são professores sua filha Cilene
da Cunha Pereira e o genro Paulo Roberto Dias Pereira, e era
assim que gostava de ser conhecido e lembrado.
Além
do magistério e obra escrita, ocupou importantes funções
públicas. Durante quatro anos dirigiu a Biblioteca
Nacional; foi Secretário Geral de Educação e Cultura do
Governo Provisório do Estado da Guanabara, em 1960; membro
do Conselho Federal de Educação, onde exerceu dois
mandatos, de 1962 a 1970; coordenador geral do Projeto de
Estudo Coordenado da Norma Lingüística Culta Projeto NURC,
em 1972; coordenador do Projeto de Estudo da Fala dos
Pescadores na Região dos Lagos Projeto FAPERJ, em 1980;
coordenador do Atlas Etnolingüístico dos pescadores do
Estado do Rio de Janeiro Projeto APERJ, em 1986; membro do
Conselho Federal de Cultura. Era figura eminente da Comissão
de Textos da Unesco e representante do Brasil no Instituto
Internacional de Língua Portuguesa.
Foi
membro da Comissão Machado de Assis, encarregada de
elaborar a edição crítica das obras do escritor, e da
Comissão para fixação da Nomenclatura Gramatical
Brasileira, em 1957; presidente do Grupo de Trabalho, criado
pelo ministro da Educação e Cultura Ney Braga, destinado a
apresentar sugestões objetivando o aperfeiçoamento do
ensino do Português, em 1976; revisor do texto da atual
Constituição do Brasil, a convite da Assembléia
Constituinte, em 1987.
Pertencia
à Academia das Ciências de Lisboa, à Academia Mineira de
Letras, à Academia Brasileira de Filologia, ao Círculo
Lingüístico do Rio de Janeiro, à Société de
Linguistique de Paris, à Société de Linguistique Romane,
à Association Internationale de Sémiotique, à Associación
de Lingüística y Filología de la América Latina, à
Oficina Internacional de Información y Observación del
Español e ao PEN Clube do Brasil.
Recebeu
o Prêmio José Veríssimo (Ensaio e Erudição) da Academia
Brasileira de Letras (1956); o Prêmio Paula Brito, da
Prefeitura do antigo Distrito Federal (1958); o Prêmio
Moinho Santista de Filologia (1983). |