Casimiro
José Marques de Abreu, poeta, nasceu em Barra de São João,
RJ, em 4 de janeiro de 1839, e faleceu em Nova Friburgo, RJ,
em 18 de outubro de 1860. É o patrono da Cadeira n. 6 da
Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador
Teixeira de Melo.
Era
filho natural do abastado comerciante e fazendeiro português
José Joaquim Marques Abreu e de Luísa Joaquina das Neves.
O pai nunca residiu com a mãe de modo permanente,
acentuando assim o caráter ilegal de uma origem que pode
ter causado bastante humilhação ao poeta. Passou a infância
sobretudo na propriedade materna, Fazenda da Prata, em
Correntezas. Recebeu apenas instrução primária, estudando
dos 11 aos 13 anos no Instituto Freeze, em Nova Friburgo
(1849-1852), onde foi colega de Pedro Luís, seu grande
amigo para o resto da vida. Em 52 foi para o Rio de Janeiro
praticar o comércio, atividade que lhe desagradava, e a que
se submeteu por vontade do pai, com o qual viajou para
Portugal no ano seguinte. Em Lisboa iniciou a atividade
literária, publicando um conto e escrevendo a maior parte
de suas poesias, exaltando as belezas do Brasil e cantando,
com inocente ternura e sensibilidade quase infantil, suas
saudades do país. Lá compôs também o drama Camões e o
Jau, representado no teatro D. Fernando (1856). Ele só
tinha dezessete anos, e já colaborava na imprensa
portuguesa, ao lado de Alexandre Herculano, Rebelo da Silva
e outros. Não escrevia apenas versos. No mesmo ano de 1856,
o jornal O Progresso imprimiu o folhetim Carolina, e na
revista Ilustração Luso-Brasileira saíram os primeiros
capítulos de Camila, recriação ficcional de uma visita ao
Minho, terra de seu pai.
Em 1857, voltou ao Rio, onde continuou residindo a
pretexto de continuar os estudos comerciais. Animava-se em
festas carnavalescas e bailes e freqüentava as rodas literárias,
nas quais era bem relacionado. Colaborou em A Marmota, O
Espelho, Revista Popular e no jornal Correio Mercantil, de
Francisco Otaviano. Nesse jornal, trabalhavam dois moços
igualmente brilhantes: o jornalista Manuel Antônio de
Almeida e o revisor Machado de Assis, seus companheiros em
rodas literárias. Publicou As primaveras em 1859. Em 60,
morreu o pai, que sempre o amparou e custeou de bom grado as
despesas da sua vida literária, apesar das queixas românticas
feitas contra a imposição da carreira. A paixão
absorvente que consagrou à poesia justifica a reação
contra a visão limitada com que o velho Abreu procurava
encaminhá-lo na vida prática.
Doente
de tuberculose buscou alívio no clima de Nova Friburgo. Sem
obter melhora, recolhe-se à fazenda de Indaiaçu, em São
João, onde veio a falecer, seis meses depois do pai,
faltando três meses para completar vinte e dois anos.
Em As primaveras acham-se os temas prediletos do
poeta e que o identificam como lírico-romântico: a
nostalgia da infância, a saudade da terra natal, o gosto da
natureza, a religiosidade ingênua, o pressentimento da
morte, a exaltação da juventude, a devoção pela pátria
e a idealização da mulher amada. A sua visão do mundo
externo está condicionada estreitamente pelo universo do
burguês brasileiro da época imperial, das chácaras e
jardins. Trata de uma natureza onde se caça passarinho
quando criança, onde se arma a rede para o devaneio ou se
vai namorar quando rapaz.
À
simplicidade da matéria poética corresponde amaneiramento
paralelo da forma. Casimiro de Abreu desdenha o verso branco
e o soneto, prefere a estrofe regular, que melhor transmite
a cadência da inspiração "doce e meiga" e o
ritmo mais cantante. Colocado entre os poetas da segunda
geração romântica, expressa, através de um estilo espontâneo,
emoções simples e ingênuas. Estão ausentes na sua poesia
a surda paixão carnal de Junqueira Freire, ou os desejos
irritados, macerados, do insone Álvares de Azevedo. Ele pôde
sublimar em lânguida ternura a sensualidade robusta, embora
quase sempre bem disfarçada, dos seus poemas essencialmente
diurnos, nos quais não se sente a tensão das vigílias. No
poema "Violeta" configura a teoria do amor romântico,
segundo a qual devem ficar subentendidos os aspectos
sensuais mais diretos, devendo, ao contrário, ser
manifestado com o maior brilho e delicadeza possível o que
for idealização de conduta. O meu livro negro, em toda a
sua obra, é o único momento de amargura violenta e
rebeldia mais acentuada; noutros o drama apenas se infiltra,
menos compacto. Em sua poesia, talvez exagerada no
sentimentalismo e repleta de amor pela natureza, pela mãe e
pela irmã, as emoções se sucedem sem violência,
envolvidas num misto de saudade e de tristeza. |