Ariano
Vilar Suassuna, advogado, professor, teatrólogo e
romancista, nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João
Pessoa, PB, em 16 de junho de 1927. Eleito em 3 de agosto de
1989 para a Cadeira n. 32, foi recebido em 9 de agosto de
1990, pelo acadêmico Marcos Vinicius Vilaça.
É
filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e de
Rita de Cássia Dantas Vilar Suassuna. Contava pouco mais de
três anos de idade quando seu pai, que governava o Estado
no período de 1924 a 1928, foi assassinado no Rio de
Janeiro em conseqüência da cruenta luta política que se
desencadeou na Paraíba às vésperas da Revolução de
1930. Nesse mesmo ano, D. Rita Vilar Suassuna, que se vira
obrigada pela alta de segurança reinante em seu Estado a
mudar-se para Pernambuco, transferiu-se com os nove filhos
do casal para o sertão paraibano, indo instalar-se na
Fazenda Acahuan, de propriedade da família, e depois na
vila de Taperoá, onde Ariano Suassuna fez os estudos primários.
A
infância passada no sertão familiarizou o futuro escritor
e dramaturgo com os temas e as formas de expressão artística
que viriam mais tarde constituir seu universo ficcional ou,
como ele próprio o denomina, seu "mundo mítico".
Não só as estórias e casos narrados e cantados em prosa e
verso foram aproveitados como suporte na plasmação de suas
peças, poemas e romances. Também as próprias formas da
narrativa oral e da poesia sertaneja foram assimiladas e
reelaboradas por Suassuna. Suas primeiras produções -
publicadas nos suplementos literários dos jornais do
Recife, quando o autor fazia os estudos pré-universitários
no Colégio Osvaldo Cruz singularizavam-se pelo domínio dos
ritmos e metros cristalizados na poética nordestina.
Em
1946, ao ingressar na Faculdade de Direito do Recife, Ariano
Suassuna ligou-se ao grupo de jovens escritores e artistas
que, tendo à frente Hermilo Borba Filho, Joel Pontes, Gastão
de Holanda e Aloísio Magalhães, acabavam de fundar o
Teatro do Estudante Pernambucano. Em 1947, escreveu sua
primeira peça, Uma mulher vestida de sol, que obteve o
primeiro lugar em concurso de âmbito nacional promovido
pelo TEP (Prêmio Nicolau Carlos Magno). No ano seguinte,
especialmente para a inauguração da Barraca, o palco
itinerante do TEP, escreveu Cantam as harpas de Sião, peça
totalmente refundida anos depois com o título de O desertor
de Princesa. A esses dois ensaios iniciais seguiu-se a peça
Os homens de barro (1949), em que as inquietações
espirituais exacerbaram os processos expressionistas
empregados na primeira versão de Cantam as harpas de Sião.
As mesmas inquietações estiveram presentes em duas outras
peças, Auto de João da Cruz, que recebeu o Prêmio Martins
Pena em 1950, e Arco desolado (menção honrosa no concurso
do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954).
Após
formar-se na Faculdade de Direito, em 1950, passou a
dedicar-se também à advocacia. Mudou-se de novo para
Taperoá, onde escreveu e montou a peça Torturas de um coração,
em 1951. No ano seguinte, voltou a residir em Recife. São
dessa época O castigo da soberba (1953), O rico avarento
(1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou
em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato
Magaldi "o texto mais popular do moderno teatro
brasileiro". Encenado, em 1957, pelo Teatro Adolescente
do Recife no Festival de Teatros Amadores do Brasil
realizado no Rio, o auto conquistou a medalha de ouro da
Associação Brasileira de Críticos Teatrais. Sucesso
permanente de público e de crítica, o Auto da Compadecida
está hoje incorporado ao repertório internacional,
traduzido e representado em espanhol, francês, inglês,
alemão, polonês, tcheco, holandês, finlandês e hebraico.
Em
1956, Ariano Suassuna abandonou a advocacia para tornar-se
professor de Estética na Universidade Federal de
Pernambuco. No ano seguinte, foi encenada a sua peça O
casamento suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio
Cardoso, e O santo e a porca; em 1958, foi encenada a sua peça
O homem da vaca e o poder da fortuna; em 1959, A pena e a
lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano
de Teatro.
Em
1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro
Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da boa
preguiça (1960) e A caseira e a Catarina (1962). No início
dos anos 60, interrompeu a bem-sucedida carreira de
dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPe.
Foi
membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967) e
nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do
Departamento de Extensão Cultural da UFPe (1969). Ligado
diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o
"Movimento Armorial", interessado no
desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão
populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música
para procurarem uma música erudita nordestina que viesse
juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro
de 1970, com o concerto "Três Séculos de Música
Nordestina do Barroco ao Armorial" e com uma exposição
de gravura, pintura e escultura.
Entre
1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando
o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do
Vai-e-Volta (1971), laureado com o Prêmio Nacional de Ficção
conferido em 1972 pelo Instituto Nacional do Livro; e história
d’O rei degolado nas caatingas do serão/Ao sol da onça
caetana (1976), classificados por ele de "romance
armorial-popular brasileiro". |