Júlio
Afrânio Peixoto, médico legista, político, professor, crítico,
ensaísta, romancista, historiador literário, nasceu em Lençóis,
nas Lavras Diamantinas, BA, em 14 de dezembro de 1876, e
faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de janeiro de 1947.
Eleito em 7 de maio de 1910 para a Cadeira n. 7, na sucessão
de Euclides da Cunha, foi recebido em 14 de agosto de 1911,
pelo acadêmico Araripe Júnior.
Foram seus pais o capitão Francisco Afrânio Peixoto
e Virgínia de Morais Peixoto. O pai, comerciante e homem de
boa cultura, transmitiu ao filho os conhecimentos que
auferiu ao longo de sua vida de autodidata. Criado no
interior da Bahia, cujos cenários constituem a situação
de muitos dos seus romances, sua formação intelectual se
fez em Salvador, onde se diplomou em Medicina, em 1897, como
aluno laureado. Sua tese inaugural, Epilepsia e crime,
despertou grande interesse nos meios científicos do país e
do exterior. Em 1902, a chamado de Juliano Moreira, mudou-se
para o Rio, onde foi inspetor de Saúde Pública (1902) e
Diretor do Hospital Nacional de Alienados (1904). Após
concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os
cargos de professor extraordinário da Faculdade de Medicina
(1911); diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (1915);
diretor da Instrução Pública do Distrito Federal (1916);
deputado federal pela Bahia (1924-1930); professor de História
da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro
(1932). No magistério, chegou a reitor da Universidade do
Distrito Federal, em 1935. Após 40 anos de relevantes serviços
à formação das novas gerações de seu país,
aposentou-se.
A
sua estréia na literatura se deu dentro da atmosfera do
simbolismo, com a publicação, em 1900, de Rosa mística,
curioso e original drama em cinco atos, luxuosamente
impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato. O próprio
autor renegou essa obra, anotando, no exemplar existente na
Biblioteca da Academia, a observação: "incorrigível.
Só o fogo." Entre 1904 e 1906 viajou por vários países
da Europa, com o propósito de ali aperfeiçoar seus
conhecimentos no campo de sua especialidade, aliando também
a curiosidade de arte e turismo ao interesse do estudo.
Nessa primeira viagem à Europa travou conhecimento, a
bordo, com a família de Alberto de Faria, da qual viria a
fazer parte, sete anos depois, ao casar-se com Francisca de
Faria Peixoto. Em 1906, submeteu-se às provas do concurso
em que ganharia as cadeiras de Medicina Legal e Higiene.
Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio
Peixoto quem examinou o corpo do escritor assassinado e
assinou o laudo respectivo.
Ao
vir ao Rio, seu pensamento era de apenas ser médico, tanto
que deixara de incursionar pela literatura após a publicação
de Rosa mística. Sua obra médico-legal-científica
avolumava-se. O romance foi uma implicação a que o autor
foi levado em decorrência de sua eleição para a Academia
Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à revelia,
quando se achava no Egito, em sua segunda viagem ao
exterior. Começou a escrever o romance A esfinge, o que fez
em três meses. O Egito inspirou-lhe o título e a trama
novelesca, o eterno conflito entre o homem e a mulher que se
querem, transposto para o ambiente requintado da sociedade
carioca, com o então tradicional veraneio em Petrópolis,
as conversas do mundanismo, versando sobre política, negócios
da Bolsa, assuntos literários e artísticos, viagens ao
exterior. Em certo momento, no capítulo "O Barro
Branco", conduz o personagem principal, Paulo, a uma
cidade do interior, em visita a familiares ali residentes.
Demonstra-nos Afrânio, nessas páginas, os aspectos da força
telúrica com que impregnou a sua obra novelesca. O romance,
publicado em 1911, obteve um sucesso incomum e colocou seu
autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas
brasileiros. Na trilogia de romances regionalistas Maria
Bonita (1914) Fruta do mato (1920) e Bugrinha (1922), que
foi violentamente criticada pelos modernistas, é importante
a análise psicológica das personagens femininas.
Dotado
de personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de
ser um grande causeur e um primoroso conferencista,
conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e
encantadora. Como sucesso de crítica e prestígio popular,
poucos escritores se igualaram na época a Afrânio Peixoto.
Na
Academia, teve também intensa atividade. Pertenceu à
Comissão de Redação da Revista (1911-1920); à Comissão
de Bibliografia (1918) e à Comissão de Lexicografia (1920
e 1922). Presidente da Casa de Machado de Assis em 1923,
promoveu, junto ao embaixador da França, Alexandre Conty, a
doação pelo governo francês do palácio Petit Trianon,
construído para a Exposição da França no Centenário da
Independência do Brasil. Ainda em 1923, deu início às
publicações da Academia, numa coleção que, em sua
homenagem, desde 1931, tem o nome de Coleção Afrânio
Peixoto.
Afrânio
Peixoto procurou resumir sua biografia o seu intenso labor
intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras que
publicou em dois versos: "Estudou e escreveu, nada mais
lhe aconteceu”.
Era
membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da
Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Nacional de
Medicina Legal, do Instituto de Medicina de Madri e de
outras instituições. |